24/05/2013
Ano 16 - Número 841
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Em idioma já tão rico é impressionante como uma palavra, até de gíria, ou uma
frase popular, encaixa-se bem. Primeiro na fala diária, para depois
paulatinamente ganhar modo de permanência e fixar-se na Língua Portuguesa.
Exemplifico de início com o adjetivo chato e, sem descer a motivação inicial,
vale dizer que declarar que determinada pessoa é chata, esclarece tudo e não
há outro sinônimo perfeito. Amolante, enjoado, desagradável etc não conseguem
exprimir o que o termo chato agora significa, por mais que certos puristas
condenem-na. E a locução cair a ficha também está caindo muito bem.
Determinado fato desagradável acontece para certo indivíduo. Ele tem
conhecimento do acorrido, entendeu-o e todos os efeitos negativos, ou
positivos, relacionados ao mesmo não foram sentidos. Ainda não caiu a ficha.
Algumas ações são inteiramente desencadeadas por fichas. Quero um
refrigerante, compro uma ficha na caixa, introduzo-a na engenhoca, a ficha cai
e chega-me às mãos o refrigerante. Já se falou em telefones de rua assim
também. Portanto só quando a ficha cai é que vêm todas as conseqüências do
fato. E este acontecimento não obrigatoriamente é ruim, pode ser, por exemplo,
receber um presente, ganhar na loteria e perguntado sobre o que está achando
da nova situação, avisa-se que o felizardo ainda não caiu em si e não está de
plena posse do acontecido. Ou alguém fica viúvo, não está tão abatido, como
era de supor-se, pois a dor deixou-o anestesiado e perguntando-se por ele,
ouve-se. Ainda não caiu a ficha inteiramente, quando cair, temo pela sanidade
dele. Portanto tenho ouvido a locução não caiu a ficha e para as mais diversas
situações, tal é a força que as poucas palavras têm, quando funcionam em
conjunto. E quem a inventou, ou usou primeiro, o caiu a ficha? Quem? Quem
inventa as fabulosas anedotas, que tanto nos fazem rir? Na maioria das vezes o
inventor fica no anonimato e pode até nem perceber que foi o idealizador de um
modo sucinto de comunicação, de ótima conotação comparativa, ou da piada e nem
se vangloria da criação. Para estes infelizmente não caiu a ficha e é pena que
tantos sejam glorificados por fatos pouco interessantes e outros, inventivos e
criativos, perdem-se em não merecido anonimato. E há várias categorias de
pessoas para quem nunca as fichas caem. Para o bem, ou para o mal. Caiu agora
minha ficha, para mostrar que o tema já foi suficientemente desenvolvido. Ou,
se preferirem, massacrado.
(24 de maio/2013)
CooJornal nº 841
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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