10/05/2013
Ano 16 - Número 839
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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"Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos?" Voz cavernosa na novela
radiofônica em seguida respondia. - "O Sombra sabe". Como o Sombra não existe,
não sabemos o mal que vai nos corações humanos. E não estou me reportando às
maldades, que alguém possa estar planejando para outro. Refiro-me aos
sofrimentos, ou dificuldades, pelas quais todos passamos. Mesmo se o outro nos
conta seus infortúnios, não sabemos de fato por quanto de penas está passando,
pois não há escala de mensuração para o sofrimento e depende muito do limiar
de sensibilidade de cada um. Nós pensamos que entendemos a dor do outro,
apenas cogitamos e a ideia pode estar equivocada. Somos solitários em nossos
sofrimentos, por mais que alguém, mesmo se a própria mãe, ou a amada, ou um
verdadeiro amigo, for quem envia pontes de afeto e de compreensão. Não que
estas tentativas de apoio não tenham serventia, pois têm um valor enorme e são
essenciais. Sofre mais quem não as tem. Elas mitigam as dores, os pesares, mas
o homem nasce só e assim morre. A frase que inicia esta crônica, vale também
para os constantes entrechoques da vida. O que se passava na alma de quem
conosco se atritou? Era uma doença, uma frustração, uma fobia, uma preocupação
financeira, ou a saúde de um parente, que dava o pano de fundo daquela fase da
vida dele? Pensando nisto, dava para segurar um pouco o revide? Não, não dava,
tudo bem. Faça uma pausa e olhe a fisionomia dos passantes, principalmente a
dos mais idosos. Muitos jovens ainda riem. Que se esconde nos corações dos
mais idosos? Que aflições carregam e quão pouco alguém pode fazer por eles,
exceto a classe política, mas esta está mais propensa a dificultar as
pesquisas sobre suas tramoias, que amparar velhos. Se o vivente, moço ou
idoso, tiver religião, filosofia de vida, família, amor, ou vários, menos mal.
E se, cercados de outros, sentirem-se solitários? O Sombra não existe, tenho
problemas, você os seus, o mundo todos. E permanentemente estaremos nos
cruzando nas ruas da vida. E uma pergunta básica, quanto estamos cuidando para
não aumentar o padecimento de outro? Quanto evitamos? E, às vezes,
sobrecarregamos entes muitos chegados, sem saber ao certo o que lhes vai no
coração. Pergunte ao Sombra, ou à sombra. Não haverá resposta e cada um, mais
ou menos, vai viver debatendo-se, emparedado pelas suas solitárias
preocupações, principalmente quando a idade vai avançando, o tempo parece
escoar-se e cada um interroga-se sobre o futuro, sem o Sombra, sombrio, por
estar enfrentado o desconhecido. “Quem sabe o mal que se esconde nos corações
humano?” Pode ser até o amor. Ainda bem!
(10 de maio/2013)
CooJornal nº 839
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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