01/02/2013
Ano 16 - Número 825
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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A imprensa informa que a Leiteria BOL vai fechar. Lembrei-me de muitos anos
atrás e com terna saudade, quando ia às compras no Centro com mamãe. O Rio era
outro. Pegávamos o ônibus do Grajaú depois do almoço e, usualmente, eu dormia
no trajeto. Ao chegar ao centro da cidade, era acordado, estava estremunhado e
percorria de início as casas comerciais meio sonado. As senhoras, quando iam
às compras, andavam de cansar criança, apesar dos saltos altos e chapéus. A
cidade, no caso, era o centro desta mui leal e sofrida São Sebastião do Rio de
Janeiro. Ruas do Ouvidor, Gonçalves Dias, Uruguaiana, Largo da Carioca e
adjacências. Havia os bairros da zona Norte, da zona Sul, os subúrbios, a zona
Rural e as ilhas. Nem se falava na Barra da Tijuca e multo menos no Recreio
dos Bandeirantes. Pasmem os mais novos, não havia shopplngs! Voltemos às
senhoras, acompanhadas de outra, ou de filho, pois uma senhora não andava só e
maridos não faziam compras. Especulavam preços e, multas vezes, voltavam à
primeira loja visitada. Eu vestia-me no Príncipe, "o que veste hoje o homem de
amanha". Um tio conhecia o dono do "Príncipe" e havia a chamada diferença no
preço. Quando as pernas começavam a doer e os sorrisos minguavam, mamãe
olhava-me e vinha a frase salvadora: - Vamos lanchar na BOL? Casa de lanches,
estreita, comprida e sempre com os mesmos garçons. Sei que entrar nesta casa
de lanche era uma festa para os pés e farra para a barriga. Chocolate gelado e
sanduíche de presunto. Cadeiras estreitas, embrulhos nas outras duas que
sobravam. Lembro-me que as paredes da BOL eram espelhadas e havia pormenores
avermelhados.
Depois, continuávamos a andança. Íamos ver papai na Tesouraria da Caixa
Econômica Federal, Ouvi muito como esta crescido! E muitas senhoras tinham o
mau hábito de apertar-me as bochechas. Havia, quase sempre, uma passagem em
casa de brinquedos, ou na Loja de Dois Mil Reis, que virou depois Lojas
Americanas. De acordo com o orçamento ganhava brinquedo, ou jogo. E como
vibrava! Andávamos principalmente nas ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias.
Crianças da classe média ganhavam menos presentes do que as de agora, não
tinham computadores, e arrisco-me a dizer que eram mais crianças e mais
felizes no geral.
De há muito não vou a BOL. Já não volto da cidade de ônibus, cochilando, às
vezes, incomodando algum estranho, quando não havia lugar ao lado da mamãe.
Sou e agradeço ser avô de três netos, que rirão destas idas às compras. Ao ler
a noticia do fechamento da BOL, bateu-me uma saudade danada da mamãe. Tudo vai
passando e persistem as teimosas esperanças, doces lembranças, de um tempo bom
que ficou para trás. Tempos em que fui Pedrinho no Sitio do Picapau Amarelo.
E, Pedrinho, Narizinho e Emília nunca foram a BOL. Mamãe e eu fomos. Valeu!
(01 de fevereiro/2013)
CooJornal nº 825
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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