18/01/2013
Ano 16 - Número 823
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Dia seis de janeiro é o Dia dos
Santos Reis, dito Dia de Reis. No dia seguinte é dia de outros reis, que sete
de janeiro de cada ano é Dia do Leitor. Quer mais reinado do que o de um
leitor? Se não cegar, vai ler a vida toda. _ Lembro-lhe que há a leitura
braile. Agradeço o aparte e continuo. Ele faz dueto com outro importante rei,
o escritor. E só há escritor porque há leitor. _ Há vice-versa. E o Brasil é
pobre dos que comemoram o sete de janeiro. Você vai dizer, já que comemora seu
dia e deve ser acatado, que conhece muitos leitores brasileiros. Peço que leia
estatística e veja que não existe o número de alfabetizados, que devia, no
Brasil. Leitor então... E muitos, em maioria, mesmo que saibam ler, não
manipulam livros, contentam-se com jornais e às vezes nem isto. Vêm televisão,
assistem jogos de futebol, comem churrascos, bebem cevas e parecem
satisfeitos. O que vai pelo País pensam saber e vão em cantadas eleitoreiras.
_ Se você está reclamando da quantidade de leitores, o que me diz da força dos
escritores? Lógico que sou escritor e posso chegar ao “mea culpa”, devíamos
ter mais e melhores escritores. Já que fui a um “latinório”, permito-me outro
e direi que vou de “habeas corpus” preventivo, pois darei a cara a tapas e
continuo. Saem muitos livros, que não precisariam ser editados, tanto que se
importa livros. Parêntese, por favor, sou amarrado em futebol, vejo televisão,
não dispenso um bom churrasco e tenho escritores de outros países em
traduções, que consumo sempre, vide o atual Andrea Camilleri e seu Inspetor
siciliano Salvo Motalbano. E se julgo que o Brasil precisa ler mais e aumentar
o número de leitores, acredito que muitos dos livros publicados em terras
“brasilis” podiam muito bem ficar nas gavetas. _ Então o digitador prescreve
censura? _ Quer voltar a outros e tenebrosos tempos? Censura nunca, respondo e
rápido. _ E quem diria que tal livro, seu “O Lapso”, por exemplo, deveria ter
ficado enfurnado no computador? O leitor diria. Se há poucos leitores, alguns
rabiscadores e pagadores de impressão de livros continuarão tendo a ilusão de
que são escritores e têm leitores. _ “Pera” aí, não sou do ramo, não sou nem
pretendo ser escritor, vivo feliz de ser leitor e até leio bem, daí a
pergunta. _ Paga-se para editar livros? Paga-se, sempre se pagou, não é de
hoje. _ Editoras não existem para editar livros? Editoras existem para vender
produtos, no caso livros. _ Se quem assina o livro não é conhecido, como a
Editora vai saber se vai vender ou não? Não sabe e não edita. Edita o do
fulano que todo mundo conhece de outros carnavais e então vai a livro, muitas
vezes sua mão direcionada por “ghost writer’. _ Tire o inglês e vamos de
escritor fantasma, que é escritor e escreveu. Escreveu não, deu forma apenas,
pois a baboseira, ou boa obra, veio do nome conhecido, que muitas vezes nem
leitor é, pois é apenas minimamente alfabetizado e o dinheiro vem de
habilidade não intelectual. _ Cronista, você está fazendo uma confusão danada,
começou pelo sete de janeiro, elogiando leitores, depois escritores e por fim
baixou a lenha em todos. Até aqui quem discrepou foi você e veio até de “O
Lapso” e se desejo melhorar a qualidade dos livros, não quantidade, é porque
julgo que o leitor vale muito e merece qualidade. Viva o sete de janeiro e
estamos conversados. _ Agradeço o viva e continuo lendo, continuo leitor. Sou
ávido leitor também.
(18 de janeiro/2013)
CooJornal nº 823
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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