21/12/2012
Ano 16 - Número 819
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Em breve chegaremos ao sexto dia
do ano em 2013. Dia dos Santos Reis. A música do Tim Maia diz que "anda meio
esquecida, mas é a festa dos Santos Reis". Meus pais casaram-se em um seis de
janeiro e nem mais podem comemorá-lo... Aqui em casa é o dia do desmonte da
festa do Natal. E desarrumação não tem a alegria da arrumação; esta é
preparativo, aquela rescaldo. E quase todos os cômodos têm que ser
reformulados, para voltar à roupagem do cotidiano, depois de terem passado
muitos dias de dezembro e o princípio de janeiro com ares festivos, na
aparência e na alma da casa, desde a porta de entrada, que até luzes piscando
ganhou este ano, até a cozinha, que tinha também seu Papai Noel. Da Árvore de
Natal da sala nem se fale, pois a cada ano ganha novos enfeites, procurados e
apontados pelas crianças (o menor agora com vinte dois anos) e até pelos menos
jovens. Todos da família querem ver a Árvore de Natal da Vovó Leca. Vovô entra
com os contos e crônicas de Natal. E há Papais Noéis agora eletrônicos, com
músicas características, as quais se ouve pela última vez neste dia. Das
alegorias são tiradas as pilhas, para não “melarem”. Releem-se os cartões de
Natal e guarda-se este, ou aquele, por isto, ou por aquilo, já que não há
lugar para todos. Que pena! E nos enternecemos de novo com algumas mensagens,
lidas agora com mais calma, com um leve laivo de nostalgia, pois este Natal
passou e foi, graças a Deus, um bom Natal. E há que se desmanchar o presépio,
enrolar em papel de seda todos os figurantes, com cuidados para que não se
quebrem, pois é difícil repor as figuras em tamanhos iguais. Ah, os
carneirinhos do presépio! Modesto presépio aqui de casa. Comemora-se o Natal
com uma vigorosa ceia no dia vinte e quatro e depois da sobremesa cada um
recebe um pequeno presente, pois os mais importantes ficam para serem
colocados de madrugada pela avó nos pés das camas e fazer a alegria da manhã
no dia vinte e cinco. Ela só consegue dormir depois das três da madrugada.
Está física e emocionalmente cansada no dia seguinte! Em cada ceia e foi ótima
ideia do filho, lê-se um salmo, por exemplo, São Paulo aos Coríntios, como
jogral, participando todos, ou alguém lê algo sobre a data e Quem nasceu. Este
ano o Carlos Diniz escolheu um trecho, lido por todos como jogral e Mariana um
artigo sobre o valor da Família, ambos de enternecer. E no Dia dos Santos Reis
Vovó Leca vai guardar tudo, com calma ativa, perseverança quieta, remoendo
emoções, enquanto vou batucando estas teclas, sem querer dar um cunho triste à
crônica da festa dos Santos Reis. Já vi a comemoração da Folia de Reis, quando
um grupo de homens do interior, vestidos a caráter e tocando instrumentos
simples, batia às portas, cantando "abre a porta, oh gente pobre". Era pequeno
e estava em Pedro do Rio, muitos e muitos anos atrás. Estranhei sermos
chamados de gente pobre. De fato, pensando bem, somos todos muito pobres, pois
perdemos mais um Natal e nem sabemos como será o próximo. A ninguém é dado ter
certezas. Que os Santos Reis amparem-nos nesta humana fragilidade, apesar de
tanta empáfia e destemperos, que grassam nos por aí. E que Papai Noel esteja
também em sua oficina, guardando tudo e, como Vovó Leca, pensando no ano que
vem, começando a comprar, com muito amor e interesse, os presentes e enfeites
do próximo Natal, pois este cuidado antecipado é também uma forma de
encompridá-lo e fazer o Dia de Reis menos triste e com mais esperanças,
esperanças estas que são o alimento, para os que têm liberdade, paz, saúde,
amor e sentem uma vibração especial pela época do Natal e sua lenda. E que
esta terna emoção, que pode ser até julgada comercial, despropositada e
piegas, perdure e nunca se apague, apesar deste conturbado e violento período
de nossa História.
(21 de dezembro/2012)
CooJornal nº 819
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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