14/12/2012
Ano 16 - Número 818
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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O Globo, 07/08/2010, coluna do
Ancelmo Gois, – Cena carioca- “quarta, por volta das 11 h, um mendigo dormia
sob a marquise do bar GLS Galeria, em Ipanema, na Rua Teixeira de Melo,
abraçado a um pôster de tamanho natural, desses de banca de jornal, da atriz
toda boa Paola Oliveira”.
Li e fiquei pensando como deve ter sido a noite do mendigo. Frio, fome,
solidão, sujeira e abraçado à Paola Oliveira. As fotos, de qualquer espécie,
de lindas mulheres correm mundo, fazendo alegria de muitos. E belas, só por
exceção, têm vidas felizes. É só esmiuçar suas verdadeiras biografias. As que
o “marketing” mostra são falsas, como a vida de determinados políticos, que
beberam nas fontes espúrias de determinadas mídias e viraram heróis. A maioria
das mulheres de fama foi explorada, ainda que muitas tentem com suas belezas
explorar. Há um vice-versa lamentável. Ditado popular diz que beleza não põe
mesa. Beleza pode por mesa, comprar castelos, joias, perfumes, amantes e até
também muita infelicidade, se faltar juízo, ou os fados encostarem
espertalhões com caras de anjos devassos nas lindas. Depende de como sua
lindeza é usada. Conta a lenda que o avião, que levou a bomba atômica para
Hiroshima, tinha o estampa de Rita Hayworth (ou Gilda, seu personagem mais
conhecido). Pesquisei no Google, novo pai dos burros, mas não consegui
certezas. Enfim, Margarita Carmen Casino, Rita Hayworth, Gilda, também não foi
feliz e deixou frase marcante: “A maioria dos homens se apaixona por Gilda,
mas acorda comigo”. Seguindo a trilha, pensei nas mulheres nuas que saem nas
Playboys da vida. Casam-se algumas, têm filhos, ou filhas, que vão para as
escolas. E aparece um colega com uma velha revista, ou veicula um retrato da
mãe em um destes meios de comunicação, fazendo comentários sobre as nuances
corporais da progenitora do colega, peladinha, peladinha! Dirão que coisa
atrasada pensar desta maneira! Com o dinheiro daquelas fotos comprou dois
apartamentos e deu alegria visual a muitos. Será que o filhote da mulher bela
e nua pensou assim? Que comentários teve que ouvir? Lembro-me que uma linda
atriz contou que seu namorado ficou enciumado, ao ver seu corpo pesquisado por
renomado fotógrafo e de todas as formas e ângulos, nem sempre escolhidos com
bom gosto e estética aceitável, em revista masculina. Acalmou-o dizendo: _
Você deve pensar na inveja que todos vão ter de você, que está transando com
aquele corpão. É uma forma de pensar, sei e no mundo mercantilista,
utilitário, anti românico, em que vivemos, muitos dos pensamentos acima são
mais palatáveis do que as ideias obsoletas, de quem escreve e com mofo nos
dedos. Pensarão também no culto a Onan, na inveja das gordas, ou magras, no
que se pode comprar com um corpo maravilhoso e uma carinha maliciosa. São
fatos incontestáveis. Para velhos, ou antigos em concepções, que serão
chamados de metidos a moralistas, estas fotos, estes pôster, podem dar margem
a desenganos. E o mendigo e o retrato em tamanho natural de Paola Oliveira? De
início vale dizer que a moça de fato é linda de formas e brejeira de rosto.
Vai otimamente na novela “Insensato Coração”, substituindo Ana Paula Arósio,
que também merece louvores, não só pela beleza, mas também por ser atriz de
atuações marcantes. As duas não apenas passeiam suas graças pelas telas. E
faço logo a assertiva de que são atrizes competentes, antes que digam mal de
meus julgamentos. Segundo, espero que o pôster tenha aquecido de todas as
maneiras o sono/sonho do mendigo. É possível que trocasse o cartaz da linda
por um bom cobertor, ou mesmo um prato de feijão com arroz, ou talvez até por
simples média e pão com manteiga. São apenas conjecturas. O que o mendigo
pensou, ficou com ele. Se é que percebeu inteiramente com quem estava
abraçado. E um último comentário, para não deixar qualquer dúvida. Até então,
que saiba, a bela ainda não saiu em nenhuma revistas de peladas, apesar de ter
feito o filme, “Entre lençóis”, onde o diretor Gustavo Nietro Roa soube
explorar seu belo corpo e interpretação correta em cenas passadas em um quarto
de motel. Soube também explorar o rostinho, que nada fica a dever ao corpo.
Enfim, valeu mendigo!
(14 de dezembro/2012)
CooJornal nº 818
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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