09/11/2012
Ano 16 - Número 812
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
|
Apresentação de livro que não
será editado. “Teatro de Pedro Franco”. Autores publicam livros por vários
motivos. Os profissionais publicam porque é esta sua profissão e dela vivem.
Daí alguns não terem sempre obras com o mesmo bom nível literário. Os não
profissionais e estou nesta categoria, gostariam de ser profissionais. Estes
em maioria bancam suas publicações e por básico motivo. Quem escreve, citar
Kafka não serve, quer ser lido. Lido, comentado e de preferência elogiado.
Aceitar críticas com benevolência, mesmo as construtivas, é fato raro. Poucas
vezes não tive que bancar as publicações de meus livros. Os de peças teatrais
foram exceções, pois vieram de prêmios de concursos de Dramaturgia, eventos
das Prefeituras, primeiro de Manaus (“Dona Carmen, o Visconde de Nova Friburgo
e o Asa Negra”), segundo a do Recife (Quem é Letícia?). E agora faço a
apresentação de livro de peças teatrais, que não será publicado. E a
finalidade fundamental não é ser lido e sim ver alguma das peças representada.
Então o possível motivo do pretenso livro seria apenas o primeiro degrau até a
esperança de alguém se interessar por peça, que então chegaria ao palco. Em
Concurso de Peças Teatrais de Araruama, 2003, assisti com familiares peça de
minha autoria ser lida/representada (“Aviões, Lixão e Pintor”) no belo teatro
daquela cidade praieira. Ainda que o título não revele, o enredo mostra pintor
decadente viciado em cocaína. Os atores liam suas participações na peça, ainda
que houvesse cenário característico para o enredo e nele os personagens
movimentavam-se. Eram oito peças no concurso e não deu, pela exiguidade de
tempo, para decorar os oito textos apresentados em três dias pelos mesmos
esforçados atores. No edital do concurso já era previsto este tipo de leitura.
O teatro estava lotado de estudantes de quatorze anos ou mais de idade,
chamados pela Secretaria de Cultura de Araruama, face ao tema da peça.
Confesso que foi emoção enorme assistir o desenrolar dos atos. Familiares e
amigos estavam satisfeitos no fim, mas nem tanto quanto eu. Dias depois recebi
e.mail dando-me o terceiro lugar no concurso. Outra comunicação avisava que
tirara a terceira nota e que só havia prêmio no edital para duas peças. Enfim,
peça representada mesmo não tenho. Pensarão, não foi Professor de Medicina de
Universidade que tem Escola de Teatro. Por que não tentou lá? De cada peça
premiada envio exemplar, ou livro, com as devidas dedicatórias e
oferecimentos. E nem recebo resposta. Aceitaria de bom grado aquela resposta
social, sua peça não se adéqua às nossas finalidades universitárias etc.
Amigos, e até um ex Reitor, tentaram que ao menos recebesse resposta da Escola
de Teatro e nada conseguiram. Algum desafeto dos tempos universitários? Não me
consta que os tenha feito durante a longa carreira desde os tempos de aluno e
chegando na aposentadoria a Professor Emérito, ainda mais na Escola de Teatro,
onde não convivi. Que fazer, se nem um acuso o recebimento querem mandar? Um
grupo de Recife iria representar a peça “Quem é Letícia?”. Liberei-a sem
cobrar direitos autorais e até pensava enfrentar avião, fato que já estava
fora de minhas cogitações nesta altura do meu campeonato, para ver meus
personagens falarem. E quem era interessado na peça, coordenava o grupo,
adoeceu e o projeto foi para o brejo. Dois outros amigos interessaram-se,
procuraram os que cuidam de grupos de Dramaturgia para lerem duas peças e
também, apesar dos amigáveis esforços, nada conseguiram. E acreditando em
livros e julgando que uma das peças talvez mereça ser representada, vou ao
importante veículo para tudo na vida. E com apresentação de livro, que não vai
ser editado. Complicado, não? A finalidade do “Teatro de Pedro Franco” não é
autolaudatória, muito pelo contrário, como mostra o texto acima. Concordo com
antigo ditado português, que afirma, contrariando a mídia atual, que “elogio
em boca própria é vitupério”. Então a crônica mostra apenas a honesta vontade
de ver peça representada e sem pensar em auferir vantagem pecuniária. Quem
sabe se com esta apresentação de livro, a não ser editado, consigo? Se nenhuma
das peças alcançar a finalidade da representação, continuo o médico
cardiologista que sempre fui, contista e cronista ocasional, com a honra atual
de participar do Rio Total, deixando a Dramaturgia para quem de fato sabe
escrever peças teatrais.
(09 de novembro/2012)
CooJornal nº 812
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
Conheça um pouco mais de Pedro Franco
Direitos Reservados
|
|