10/08/2012
Ano 16 - Número 799
ARQUIVO
PEDRO FRANCO
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Antes de apresentar minhas ideias
sobre políticos, vale afirmar que o pensamento de Winston Churchill em relação
à Democracia representa o que penso. “Ninguém pretende que a democracia seja
perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de
governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em
tempos”. O Brasil experimentou e se deu muito mal, vale sempre lembrar.
Toda unanimidade é burra, pregava Nelson Rodrigues. Concordo. Em relação à
atual política dá vontade de generalizar e pensar que todos os políticos são
adeptos de malfeitos, novo termo para cunhar desvios indesculpáveis. Estou
pregando o voto em branco, ou nulo? Nunca. Parto de raciocínio simplista.
Tenho que admitir um empregado (políticos, queiram ou não, são empregados dos
eleitores). Nenhum dos candidatos ao cargo parece-me totalmente adaptável à
função. Que faço, pois tenho que preencher a vaga? Opto pelo menos ruim.
Procurando com afinco, o eleitor acha. Será encontrar agulha em palheiro, sei.
A Pátria merece este esforço e depois vem o acompanhamento das ações de quem
mereceu seu voto. Lembra-se em quem votou? Se alguém disse que a Democracia
não é trabalhosa, equivocou-se.
O político “muderno” age pensando na próxima eleição e com base no que lhe
aconselham os marqueteiros, institutos de pesquisas e bajuladores partidários.
Até que chega à última urna, que vai ser cremada, ou levar “terra em cima e na
horizontal”, como contava Billy Blanco em “A Banca do distinto”. E o autor
teve música censurada em Governo que não era até de censuras. A letra de “Não
vou prá Brasília” cantava, “não vou, não vou prá Brasília, nem eu nem minha
família, mesmo que seja prá ficar cheio da grana” e ia por aí. Completava
afirmando “Eu caio duro, mas fico em Copacabana”. JK estava na euforia de
construir Brasília... Logo, letra que enaltecia ficar no Rio, não era bem
vista nas rádios oficiais. Que nossas esperanças fossem para Brasília! E,
voltando ao tema básico, dá vontade de torcer para que determinados políticos
façam logo a derradeira viagem, tanto mal fazem, com total desfaçatez e sem
que se vislumbre qualquer remorso. Escolha quem deseja que vista logo o terno
de pinho. O cardápio é vasto. Não sou utópico e sei que políticos bem
intencionados têm que fazer concessões para continuarem no jogo, ou enxugando
gelo. De outro lado constata-se que políticos com ideais são raridades. No
momento há algo chamado na câmara federal de baixo clero. É cada uma! De que
partido o Deputado é? Sou do baixo clero. Pior que determinados políticos são
os eleitores que votam de molecagem. Em situação tão hostil para os cidadãos
seria mais próprio digitar sacanagem, se o “copy desk” aceitar. Meu corretor
Word, por exemplo, não gosta do termo porrada e sugere outros. É, desta vez
não implicou muito, só sublinhou porrada em verde, talvez até porque estamos
tratando de políticos.
Certa vez pensei na maior doação pessoal em relação à escolha da profissão.
Trabalhar em leprosário na Amazônia veio à mente. Ou cuidar de crianças com
problemas oncológicos. São tarefas dignas de figuras como, exemplificando,
Madre Tereza de Calcutá. E depois tive outra ideia de caridade e amor ao
próximo. A dedicação desinteressada em prol do bem comum seria atuar como
político probo e patriótico e aceitar chafurdar no pântano partidário para
colher flor importante e sem ter vantagens financeiras pessoais, ou nepóticas
indicações familiares. Veja, pois que valorizo sobremodo a profissão de
político. Só que o mundo todo não me deixa com grandes ilusões, já que
politicagem rasteira não é problema exclusivo do Brasil. Alguém pode
perguntar, por que, pensando assim, não fui ser político? Faltou-me estômago,
ou talvez mais patriotismo. Fiz política universitária no Diretório da Escola
de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, hoje da UNI-RIO e bastou-me. O
consagrado escritor William Faulkner dizia que sua obra seria melhor, se
tivesse colocado uma cadeira de balanço na entrada de bordel e ficasse
apreciando as ocorrências. Será que a hipotética cadeira não estaria mais bem
posta em Brasília? Deixo a escolha do prédio ao critério do leitor.
(10 de agosto/2012)
CooJornal nº 799
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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