“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer,
é porque um dos
dois é burro.” Mário Quintana.
Mário Quintana não entrou para a Academia Brasileira de Letras. Vale afirmar
que foi candidato por três vezes e derrotado nestas tentativas. Não sou
“expert” em ABL e não sei para que literatos o poeta gaúcho perdeu a vaga. Mas
conheço a obra de Mário Quintana, para sempre ficar encantado com o que leio.
Agora sua literatura entrou na ABL, pelo menos em uma apresentação, tipo
homenagem. Ainda bem que as obras do autor não foram barradas, o que já me
parece um bom passo inicial para anunciar mudanças.
Sobre o ingresso à ABL,
vale ler o “As Excelências” “ou Como Entrar para a Academia” de Guilherme
Figueiredo, livro que seria hilário, se não fosse no âmago triste, pois mostra
os meandros das eleições para a Academia. E vários escritores já percorreram o
filão eleição para a Academia, que é de fato interminável, até por inveja de
alguns que não entraram e nem deviam mesmo entrar.
Se Quintana concorreu e
concorreu e não conseguiu vestir o fardão, apesar de ter se inscrito e feito
campanha ao seu modo, muitos e importantes literatos não se inscreveram. Esta
história de pedir, quase mendigar, votos para entrar para uma Academia, seja
ela qual for, precisa acabar. Muitos pensarão se os que estão lá pediram, por
que outros não seguem a mesma rotina? Por orgulho desmedido? Não, porque a
atual rotina é abominável e sem querer colocar uma palavra forte, o pedido
pode ser até humilhante, de acordo com a receptividade que o postulante recebe
de determinados e vaidosos acadêmicos. Vide de novo o livro de Guilherme
Figueiredo, que conta sua odisséia. Pensarão muitos acadêmicos. Se passei
pelos dissabores dos pedidos, por que os agora candidatos não devem passar?
Porque na vida devemos evitar, se temos grandeza de alma, todas as situações
constrangedoras para os outros.
Certa vez um amigo queria entrar para
determinada academia literária, que não era a ABL. Foi avisado que o
procedimento era pedir voto um a um e que tinha que ser cumprido. A finalidade
era não eleger candidatos, que não quisessem depois pertencer à referida
academia, optando por um tipo de esnobação. Este amigo escreveu carta ao
Presidente da Academia, avisando que, se eleito fosse, ficaria muito honrado
em pertencer à mesma. E foi empossado e segue brilhando por lá. Se constasse
só o pedido de inscrição, não era nada demais. Há a necessidade da visita
pessoal, a cabala de votos, cultuar igrejinhas, dar alguns almoços e
presentear cada um com suas obras, que provavelmente já foram lidas, ou nunca
serão. Enfim o candidato coloca-se numa posição subserviente perante o
acadêmico. E só para exemplos: Mestres Drummond de Andrade, Fernando Sabino,
Érico Veríssimo e a lista seria enorme, nunca se candidataram, ainda que
tivessem obras literárias suficientes para sentarem-se na Casa de Machado de
Assis com conforto cultural e sem favor nenhum.
A ABL tem abrigado não
literatos e políticos, literatos de menor brilho, ao lado de verdadeiras
expressões de nossa Literatura, estas em maior número, diga-se, do que os
componentes dos dois primeiros grupos. Que tal os acadêmicos de verdadeiro
mérito literário, aproveitando os ares do início de século, darem uma escovada
nas normas de entrada para a ABL, nas escritas e nas não escritas? Arejarem
democrática e humanamente as salas da Casa de Machado de Assis, seguindo novas
regras para a escolha dos futuros acadêmicos, levando em consideração apenas o
mérito literário. Seria sinal de progresso e até mesmo de purificação. A atual
Presidente da ABL, teimo em presidente, Ana Maria Machado, tem cabedal
suficiente para iniciar esta campanha e vem procurado levar a ABL ao povo
interessado e poderia, quem sabe, até criar uma galeria, onde grandes
escritores brasileiros mortos, que não se sentaram na ABL, fossem admitidos
pelo valor de sua obra de forma pós-morte. Seria uma forma de redimir o
passado, como está tão em moda no País. E será que o poeminha abaixo tem algo
a ver com as tentativas do poeta em entrar na Academia? Quem sabe?
“Poeminha do contra”
“Todos estes que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho.”
Mario Quintana.
(20 de julho/2012)
CooJornal nº 796
Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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