13/07/2012
Ano 16 - Número 795

 

ARQUIVO
PEDRO FRANCO

 

  Follow RevistaRIOTOTAL on Twitter

Pedro Franco


Cancelem-se todos os trotes
 

Pedro Franco - CooJornal

Quem pensar que tenho a honra de começar no COOJORNAL fazendo campanha, acertou na mosca. É campanha contra os trotes. De quando em quando a imprensa noticia que um trote de alunos terminou em agravos à saúde dos calouros e são relatadas fraturas, queimaduras e até mortes, sem falar nos problemas psicológicos que algumas "festas" de recepção de alunos em faculdades condicionam. São brincadeiras bárbaras, idiotas e imotivadas. As diretorias têm que compreender que, quando em uma instituição a tradição desvirtua-se e perde as finalidades primordiais, deve ser cancelada para que tristes acontecimentos não se perpetuem e causem danos, alguns irreversíveis, como cicatrizes, problemas psicológicos e até perda de vidas.

Quem escreve foi submetido a trote que, retirando-se alguns pequenos exageros de um veterano, nada apresentou de traumatizante. Fez-se um Carnaval fora de época e depois no primeiro trimestre calouros usaram terrível boina vermelha. Assim, ainda que em algumas instituições o trote seja festa de confraternização, onde os veteranos recebem os novatos com alarido e alegria, existe sempre um grupo de alunos que aproveita a oportunidade para expor recalques, impondo humilhações e mesmo castigos físicos aos calouros, transformando a festa em fato triste, com repercussões inadequadas para qualquer indivíduo e principalmente para os que ingressam em escolas superiores, onde se forma a elite do País.

Vale referir que o nível intelectual de algumas universidades e escolas superiores de ensino vem acompanhando os salários, isto é, caindo fragorosamente. De toda a forma como se pode aceitar, ou permitir, que um grupo universitário, ou militar, imponha qualquer tipo de castigo aos seus colegas recém-admitidos? Portanto, se em tese o trote seria uma atividade a ser incrementada, alegre, meritória, de congraçamento, tipo boas vindas; na prática tem se mostrado, aqui e ali, uma demonstração de barbárie e vandalismo. Mesmo em instituições em que a festa parece seguir em ritmo aceitável, ocasionalmente excessos são mostrados e calouros saem frustrados e ficam até arrependidos de terem se esforçado para integrar aquele meio, que o recebe tão mal.

Diante desta realidade, repetitiva, quando parece que desapareceu o juízo e bebidas alcoólicas em excesso e produtos ilegais aparecem, julgo que os trotes de calouros devem ser banidos das tradições universitárias e militares, segundo ordem do Ministério da Educação e do Ministério da Defesa, enquanto estas exceções de desrespeito à pessoa agredirem a regra.

Esperemos que em determinado tempo futuro, quando ocorra grau de urbanidade, de civilidade, da mais comezinha educação, incorpore-se aos que chegam às séries mais adiantadas das Universidades, Escolas Militares, enfim, generalizando, em qualquer Instituição, possa haver festa de congraçamento. Face aos atuais e constantes acontecimentos trotes ficam completamente abolidos. Até este futuro longínquo, enquanto não houver educação geral, que se proíba qualquer tipo de trote, ou que outro nome inventem, para evitarmos os vexames e agravos físicos e emocionais, que manifestações agressivas têm ocasionalmente determinado e que se transformam em lamentáveis e dolorosos casos médicos, ficam proibidos os trotes.

E muitos vezes o trote é o primeiro passo para o tão malfadado “bullying”, termo usado em falta de outro mais palatável. Muitos dos atuais trotes não deixam de ser “bullyings” corporativos. E não me venham afirmar, para usar termo em moda, que trotes indesejáveis são pontuais, pois não são.


(13 de julho/2012)
CooJornal nº 795



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com



Direitos Reservados