16/07/2021
Ano 24
Número 1.230





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MILTON XIMENES


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Milton Ximenes Lima

 

AOS (ES)PAÇOS DOS PÁSSAROS

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

Desperto madrugada ainda, sem motivo nenhum. Através da grande janela sou premiado com um dos mais coloridos amanheceres deste janeiro de 2021. Fotográfico presente para a eternidade dos meus olhares que um dia serão deles saudosos! Quatro e trinta horas, que avançam, permanecem, se expandem e se recolhem por cima das verdes e altas montanhas das terras cariocas.

Curvo-me sobre papéis que me construirão os dias dos próximos projetos literários. Pouco depois, a sensação de deslocamentos de ar por cima da minha cabeça, que logo acabam ao me movimentar para averiguá-lo. Continuam, param, continuam. E decifro o apelo daquela rolinha que abusa dos espaços da minha sala para lembrar-me que um pouco de ração no pequeno prato perto da porta da cozinha vai alegrar seu carente estômago matutino. A mulher facilitou isto um dia, pronto: diariamente vêm fazer a cobrança, e, sempre bem acompanhadas, acho que são cinquenta ou mais disputando o espaço de uma das minhas varandas. Alpistando, alpistando, vão se saciando. Paralelamente, no ar, na outra varanda, a da sala, beija-flores, sanhaços, bem-te-vis, sebinhos, sabiás se alternam...

 Desde a infância sempre me familiarizei com as belas imagens dos pássaros/passarinhos, enquanto nas paredes das casas dos vizinhos gaiolas eram enfileiradas para vaidosas exibições das suas cores e cantos. Fui vivendo e apreciando a beleza dos seus voos. Garças foram as primeiras a nos ensinar a doçura e a amplitude dos seus deslocamentos. Era o que nos diziam, primeiramente, aquelas que invadiam e branqueavam as muitas ilhas do rio Itapemirim em busca de alimentos, banhos e pernoites.

Bem mais tarde me admirei lendo os pensamentos libertários da gaivota Fernão Capelo Gaivota: muitas lições para o nosso dia a dia, reunidas pelo escritor Richard Bach. Título original: Jonathan Livingstone Seagull (1970).

Depois, o deslumbramento com a respectiva versão cinematográfica, em 1973, com paisagens e passagens humanizadas inesquecíveis. Cativou-me definitivamente. Uma obra-prima para as almas/gaivotas tão necessitadas da busca de novos caminhos de vida após o desprezo/inveja do seu bando de origem, por pretender, desafiadoramente, querer voar mais alto e mais rápido do que elas!

E tudo isto ao embalo, em certos momentos, da música “Be”, de Neil Diamond!

As viagens me familiarizaram com outr(o)as: não posso me esquecer das gaivotas do lago Nahuel Huapi, em Bariloche, acompanhando a grande embarcação em que viajávamos e colhendo biscoitos oferecidos em nossas mãos; outro(a)s, filhas do Pantanal de Mato Grosso, como os muitos tuiuiús pousados nos galhos das frondosas árvores, como se estivessem à frente de uma comissão de recepção. São reis no coração do Parque (Corumbá). E então, em prosseguimento, lá estou, mais tarde, sobrevoando e apreciando os Andes chilenos e descobrindo a imponência e a amplitude do voo dos condores. Nos Andes Peruanos, entretanto, é que foi endeusado e eternizado sob os acordes místicos da música instrumental de origem e influência inca, “El Condor”, uma “zarzuela” (1913). Foi considerada “patrimônio cultural do país”. Daniel Alomia Robles, músico, e Julio de La Paz , pseudônimo Julio Bandoin, letrista. Muitos intérpretes valorizaram-no mundialmente, entre eles, o músico-instrumentista Leo Rojas, os cantores Plácido Domingo, Esther Ofarim, a dupla Simon&Garfunkel e até a famosa Yma Sumac, em estilo muito próprio. Gostei muito da versão espanhola, sempre a ouço com bastante sentimento, como se fosse um voo de despedida... E, muito tempo depois, esbarro com a música que de tão suave imagino ser o reflexo do próprio voo de pássaros: os orientais/místicos acordes do japonês/americano Kitaro, apesar dos tambores e outros instrumentos típicos mais sonoramente “agressivos”. A suave gesticulação do Maestro é uma desesperada tentativa de acompanhamento de suaves danças nos ares...

No Teatro Metropolitan (RJ), graças à intermediação do empresário Miele, alcanço-lhe o camarim e consigo, no bilhete/ingresso, o autógrafo do artista. Antes do espetáculo, ele não poderia ser interrompido, pois mergulha, com sua “equipe”, numa estratégica meditação, como imprescindível preparo para o sucesso da sua envolvente exibição.

Agora, relembrando os fatos, remexendo muitas gavetas, procuro o “precioso bilhete”, hoje um troféu. Já estou na terceira do armário maior de casal e ele não aparece...

Acho que, com um pouco mais de paciência, terei que descobrir em que “ninho” ele se acomodou... Concedam-me, amigos, então, tempo maior para essa doméstica busca entre as árvores da minha desarrumação mental!

Porque depois, achando-o, volto ao assunto.

Até lá, pois!

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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