... em que, nas ruas da infância, desfilava a figura do
grande e andante Tenerá, vestido tal qual um cangaceiro, acompanhado dos
seus cachorros, e que apregoava, com seu megafone, nomes e promoções de
algumas lojas, tornando-se, a meu ver, pioneiro veículo de propaganda da
cidade; em que aquele sorveteiro, o “seu” Eduardo, vindo lá do bairro
Coronel Borges, arrastava sua carrocinha e apregoava: “Olha o sorvete e o
picolé!”, e a quem as crianças, escondidas nas casas e nos quintais,
completavam com um “É de leite de mulher!”; em que, durante certo tempo,
carroças médias abrigavam leite e o vendia (Selita), com medidor de vidro,
pelas ruas (Sr. Nestor?); outras carregavam restos de madeira provindos das
serrarias, endereçadas aos possuidores de, naturalmente, fogão à lenha; em
que a Rádio Cachoeiro (“De Cachoeiro para o mundo” teimosamente isto
repetia) tinha um programa diário chamado “Às suas ordens”, em que as
pessoas, com dedicatórias previamente escolhidas, se ofereciam músicas,
principalmente nos aniversários e nos namoros à distância; em que, num
programa matinal de perguntas e respostas, muitos brindes eram distribuídos
pela firma SOMEX: minha irmã, MJ, saiu de lá abraçada com um conjunto de
“long- plays”; que também aos domingos, pela manhã, o jovem Roberto Carlos
exibia seu promissor gogó nas músicas, entre outras, “Olinda, cidade eterna”
e “A fonte a correr, chuê, chuá...”(não me lembro do título); em que algumas
pessoas viram o mesmo Roberto, mesmo com seu problema físico, dominando e
conduzindo uma bicicleta; em que as meninas dividiam suas simpatias e
antipatias radiofônicas entre as vozes das cantoras de rádio carioca
Emilinha e da Marlene; em que a dupla Jararaca e Ratinho tinha sucesso com
suas músicas sertanejas; em que Vicente Celestino era nosso amado tenor; em
que “estourou” no Brasil a guarânia Índia, cantada pela dupla Cascatinha e
Inãna; em que a novela cubana “O Direito de Nascer”, lá pela década de 50,
era a cachaça auditiva noturna dos brasileiros; em que a nossa moeda (réis)
era muito valorizada, a ponto de servir de troco nos óbolos doados à igreja
(em saquinhos); em que as famílias, em momentos vespertinos, traziam suas
cadeiras para a frente das suas residências e iniciavam longos e tranquilos
papos, enquanto os filhos brincavam livremente pelas imediações; em que,
pelas janelas da Escola de Comércio, ao nível da rua Vinte e Cinco de Março,
a gente se deparava sempre com os famosos e queridos educadores Alfredo e
Aurora Herkenhoff; em que, sacudidos por notícias alvissareiras, partiram de
Cachoeiro veículos e caravanas com destino a Urucânia, Minas Gerais, onde o
Padre Antonio maravilhava a todos com seus milagres.
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