16/08/2020
Ano 23 - Número 1.185



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima


“Eu fui do tempo”: CACHOEIRO

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

...em que frequentei aulas de datilografia com D.Olga Braga (particularmente) e com D.Ucha (escola situada na rua D.Joana); em que os meninos se distraíam com bolas de gude, piões, bilboquês, piorras, ioiôs, jogo de porcas (tempos de chuva), “papagaios” e as improvisadas “peladas”; as meninas, com brincadeiras de inspirações domésticas, bonequices, correrias (pique-esconde), chicote queimado, amarelinhas, teatrinhos etc ; em que os amiguinhos mais pobres sempre nos presenteavam, nos aniversários, com sabonetes, estrategicamente acobertados (e valorizados) com papéis coloridos; em que era moda cortar o cabelo “à Príncipe Danilo”; em que muitos meninos passaram pela moda de usar calças com suspensórios; em que, nas vazantes do rio, era costumeiro a gente saltar de pedra em pedra e chegar à ilhota defronte, onde, colhendo bolebas de mamona (pequenas frutas), se iniciava uma batalha de arremessos; debaixo das pedras, também se procurava camarões e pequenas lagostas; em que os funerais/enterros eram realizados através das ruas, com acompanhamento à pé, caixão lá na frente abrindo o cortejo, rumo ao único cemitério, com uma paradinha breve na Matriz para as últimas bençãos, enquanto nas calçadas as pessoas se postavam respeitosamente, os homens até tirando os chapéus, as mulheres se benzendo; em que o campo de tênis do Semprini, lá na rua D. Fernando, era a alegria dos simpatizantes do esporte nos domingos, pela manhã, e nas quartas-feiras, à noite; em que, nos carnavais, os bonecos patrocinados pelo Clube Cruzador Brasileiro, a imensa Babiana entre eles, saiam da rua Nova e D. Fernando (dos Semprini, seus criadores), rumo ao desfile na praça principal, Jerônimo Monteiro; em que, na Sexta-feira da Paixão, o silêncio no ar e o comedimento nos gestos eram cultivados, só se ouviam músicas suaves, a maioria clássicas, e alguns homens procuravam, até, não fazer a barba; em que se realizava, na Semana Santa, a procissão do Encontro, em que a imagem de Nosso Senhor dos Passos saía da então Matriz de São Pedro (hoje Senhor dos Passos) na rua Don Fernando) e a da Nossa Senhora das Dores, lá da igreja de Santo Antonio (Guandu) e se encontravam na praça Jerônimo Monteiro, local também, do incentivo e entusiasmo de oradores sacros, geralmente vindos de outras paróquias maiores; em que fomos coroinhas nas missas e outras cerimônias, além de “apóstolos” num lava-pés; em que no catecismo nossas vozes entoavam, entre outros cânticos, que “O meu coração é só de Jesus/ a minha alegria é a Santa Cruz// Eu confio em Nosso Senhor, com fé, esperança e amor!”; em que as festas juninas eram particulares e públicas, avançando na noite com seus vários divertimentos, entre danças e fogos de artifício (busca-pés, foguetes, rojões, bombinhas e bombas) saltos sobre a fogueira, caminhadas sobre brasas.

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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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