01/04/2020
Ano 23 - Número 1.167
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
EM MARÇO, DE PASSAGEM |
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Do
mirante privilegiado, centro da cidade, navego meu olhar pelas promessas
da manhã. O róseo alvorecer vai deixando, aos poucos, de agasalhar o dorso
das montanhas. A cidade faz-se à luz, sinais de vida se espreguiçam e
dançam no ar sob pontos vários de fumaças brancas que ascendem dos
telhados e são dissolvidas pelos brandos ventos.
Garças, também
brancas, em vários bandos, vindas do leste, sobem os contornos do rio,
passam por cima do terraço do hotel, avançam à esquerda, bairro
Consolação. Menos numerosas, biguás as imitam, em outras direções. Todos
passam, só permanecem os pombos a peregrinarem entre o rio, as praças e as
calçadas, na busca das migalhas noturnas.
Olho para baixo, meus
conterrâneos procuram sobreviver: alguns têm pressa, outros, já que hoje é
sábado, prolongam sua saúde em passadas sobre o calçadão da Beira-Rio,
outros mais se acomodam em ônibus de excursão, estacionados bem defronte.
Céu sem nuvens, já se sente calor. Bem devagarinho, contemplo e
assimilo os contornos das altas pedras do Itabira e do Frade e a Freira,
debruço-me sobre as curvas do Itapemirim, então barrento e marulhento,
abraçando rochas e ilhas e contornando pilares de novas (para mim) pontes
que lhes sobrecarregam os ombros-leito. Absorvo as casas e edifícios
escalando teimosamente os morros, as poucas árvores que se sufocam entre
eles. Ruas que aparecem e desaparecem.
Aprisiono todas essas
paisagens na retina da minha máquina fotográfica. É ela que, mais tarde e
em contemplações silenciosas, me vai oferecer a certeza de saborear
pedaços de papel colorido com imagens queridas de saudade e nostalgia.
Mais importante, para um cachoeirense nômade, é não deixar resvalar
para o baú dos esquecimentos a mágica desses preciosos e sagrados momentos
da natureza que nos embelezam a vida, e, no caso, despertam felizes e
antigos caminhos de nossos pés-meninos.
Cachoeiro, assim, está,
quando quero, em constante renascer ante meus olhos e minhas emoções.
Este, um dos meus segredos, meu refúgio de filho distante.
Enfim,
“A terra fica na gente“ - nos confessa e sentencia o escritor afegão Atiq
Rahinim.
Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email
miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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