16/03/2020
Ano 23 - Número 1.165



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima



FUNDO DE GAVETA

ACONTECÊNCIAS

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal


Incidente/Acidente


Rua do Resende, Rio de Janeiro, numa das suas esquinas.

Vem o homem tão embalado com seus problemas que só percebeu o automóvel através do som da escandalosa freada, bem próxima.

Ainda em estado de susto, vislumbrou, dentro do veículo, o rosto redondo, gordo, do motorista, a boca a lhe transmitir algo que não entendeu no momento, mas adivinhava... Retrucou, de imediato:

- É sempre assim, a gente vê logo quem não passa nos exames e compra a carteirinha!

Pareceu que o motorista não gostou, se agachou, como se procurasse algo no chão do carro. Depois, fora dele, veio, ameaçador, com uma barra de ferro na mão direita.

Presença de espírito foi necessária para que o homem, em oportuna simulação, enfiasse a mão direita sob o casaco, em direção à cintura esquerda e gritasse:

- Sai daí que já vai fogo!

Por essas coincidências inexplicáveis, passou um carro e do seu cano de descarga irromperam dois fortes estouros.

O motorista, que à primeira vista do seu gesto, ensaiara uma retirada, aí mesmo disparou pela calçada, deixando cair a barra. De dentro de um bar, surgiu um apressado policial a exigir a arma do homem, que o indagou;

- Que arma, seu “guarda”? Pode me revistar!

E, se lembrando que o ameaçador motorista poderia reaparecer, o homem tratou de se afastar rapidamente e se escondeu, por algum tempo, entre as bancas de mercadorias de um supermercado, logo adiante.

Sorridente ficou só quando rememorou os sons das gargalhadas de algumas testemunhas do incidente.


Coincidente


Despachante, nas horas vagas usava e abusava das suas pernas, conversava com muita gente, insinuava promessas de serviços próprios da sua especialidade. Afinal, tinha necessidade de aumentar sua clientela, e aumentar, também, seus ganhos no escritório, que sempre provia seus bolsos com uma boa comissão.

Uma tarde, o calor bafejando as ruas, se encaminhava para uma repartição estadual, onde colheria dados para um cliente acertar dívida de impostos. Parou antes para atender à sede num bar daquela zona boêmia da cidade. Então, pouco depois, no seu lado esquerdo, sentiu o roçar de um braço. Encarou os olhos da mulher que ali se acomodou e lhe oferecia convidativo sorriso, sugerindo:

- Me paga uma cervejinha, meu bem?

Pensou rápido: mulher fazendo trabalho especial àquela hora da tarde? Era desespero ou simples hábito daquelas redondezas?

Ela continuou:

- Depois lhe pago, e com muito carinho!

Descartou-a com uma desculpa autêntica, bem real:

- Não posso agora, moça, estou trabalhando, e com muita pressa!

Desvencilhou-se dela, mas a frase que ela deixou no ar, ficou gravada, tal a sinceridade da afirmativa:

- E eu também!

 

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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