01/12/2019
Ano 22 - Número 1.151
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
Fundo de Gaveta
À beira do corpo
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A princípio, a mulher não teve lá muita paciência:
- Então, porque
você veio até aqui?
Não respondeu imediatamente. A situação era
ridícula. Se sentía diminuído na própria conceituação de homem. Não podia,
porém, fraquejar...
- Como é, meu bem? Ficou mudo? Anda, cara, que
meu tempo é contadinho...
Tinha pudor da própria nudez, vergonha da
paralisação dos seus músculos diante daquela mulher de tempo alugado. Ele
mesmo tentou ser mais natural, mas a mão dela, lhe enxugando suor na
testa, oferecendo-lhe um cigarro que tremeu em suas mãos e balançou em
seus lábios, mascarava e retardava o controle dos seus nervos. Aceitá-la
era o melhor caminho, mas ela tava na dela (...digna de pena!).
-
Desabafe, rapaz! Como você, eu já vi muitos! Isso é normal quando se é
inexperiente!
- Quem disse a você que sou inexperiente?
-
Bem, bem, não é bem isso que eu queria dizer, - ela tentou consertar -
mas, então... que houve com você?
- Mania minha! Só gosto de me
deitar com a mulher que realmente me interessa, e... com um pouquinho de
chamego por ela também! É que hoje a minha turma lá da rua, sem mais nem
menos, resolveu vir até aqui, e se eu não acompanho, ia ficar me gozando!
- Vocês, homens, são muito engraçados!
- Ora, por quê?
-
Além desta necessidade que, às vezes, é mínima, a mulher dá mais valor ao
sentimento de segurança, aos carinhos, à atenção que o amante lhe dá...
- Mas isto não resolve o meu caso, agora!
- Então, por que você
não me quer agora?
- Preconceitos... Acho isto comercial, só para
atender à vontade do corpo. Tudo artificial! Nada de atração verdadeira:
entra-se aqui, escolhe-se, serve-se, e paga-se!
Ela, então, o
segurou com força, puxou-o para si, e, em sussurros, prosseguiu a
conversa. Estava em jogo, também, seu orgulho de boa profissional: não
seria capaz de esquentar toda aquela juventude ali, levar mais um homem
para a sua cama? A desejá-la? Será que ele não reparou no seu corpo bonito
e jovem?
Por sua vez, ele se espantava com as próprias revelações:
- Gozado, você poderia ser, mais ou menos, o meu tipo...
- Ah,
então, foi por isso que me escolheu?... Eu lembro quem?
- Minha
segunda namorada...
- Em que e por quê?
- Sei lá, acho que
nos olhos grandes, no seu corpo pequeno, e na cor da pele, assim, tão
branquinha...
- E daí, porque vocês desmancharam? Diga aqui,
cara... para mim a vida não tem muitos segredos!
- Perdemos o
juízo, começamos a nos encontrar por aí, as famílias sentiram nossos
avanços, eles queriam um namoro mais sério, um noivado...
Arrependia-se, a partir de determinado momento, com as próprias
confissões. Constrangedor. Mas no fundo, no fundo, começou a simpatizar
com aquela criatura que o deixava muito à vontade. Ela acabou sabendo
de algumas das suas fraquezas na cama, forçou-o a repetir as excitações do
passado. Envolvente, a incógnita mulher o capturou com sua voz, seus
dedos, e seu corpo cheio de vida e respostas.
E prosseguiram, fora
dali, na convivência. De graça, e em outras paisagens. Ambos tinham
necessidades importantes de afirmações de vida.
Por algum tempo.
Depois, o desencontro dos interesses...
A sobrevivência,
enfim.
Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email
miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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