06/09/2019
Ano 22 - Número 1.141
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
Fundo de Gaveta Dois mestres
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Faculdade de Direito, salas de aula e corredores dos tempos meus.
Dentro do tema da matéria de Processo Penal, “Origens das Instituições”, o
conceituado professor HELIO TORNAGHI não escondeu o fato ocorrido com o
Desembargador Carvalho Mourão ao visitar sua cidade natal, Carangola.
Em chegando, foi convidado a exercitar seus excelentes dotes oratórios
no papel de defensor de um réu conterrâneo em Juri simulado. Aceitou, fez
excelente defesa, mas os jurados foram implacáveis e, por unanimidade,
rejeitaram seus argumentos.
Aborrecido, diplomaticamente se
retirou, e se trancafiou no quarto do hotel em que lhe reservaram
hospitalidade. Silenciosamente...
Já começara seu ritual para o
possivelmente nervoso adormecer, quando o gerente lhe telefonou informando
que uma comissão de autoridades jurídicas e políticas desejava, ainda, lhe
prestar homenagens.
A muito custo, acedeu.
Na cerimônia,
encerrados os discursos laudatórios, foi franco:
- Para falar a
verdade, não entendi o posicionamento dos senhores jurados. Não foram
sinceros à força das minhas palavras. Não foram sinceros comigo! Tenho
certeza de que muito bem defendi o acusado e fui... rejeitado
esmagadoramente!
- Data vênia, tinha que ser, tinha que ser, Senhor
Desembargador, e com o devido respeito!... - adiantou-se um representante
dos jurados...
E mais esclareceu:
- Nós conhecíamos
detalhadamente o caso trágico. Primeiro, porque testemunhamos o real
julgamento. Agora, desarquivamos os autos, relembramos todos a confissão
do réu que, frio e calculista, reconheceu sua autoria. Então, não tivemos
dúvidas, condenamo-lo novamente... em definitivo!
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Teoria Geral do Estado: o catedrático e então Reitor da
Universidade do Brasil, PEDRO CALMON, era o dono da cadeira. Nos afogava
na sua inteligência e sua festejada oratória, mas, na verdade, se houvesse
oportunidade, aproveitava a ocasião e nos transmitia, também, seu imenso
conhecimento da História do Brasil. Só nos abandonava com o anúncio do
término da aula, mas, por Ele, empolgado que ficava, invadiria o espaço do
próximo professor...
No mais, era um simples, admitia diálogos. Vez
em quando, exercia lá suas “tiradas”. Como...
Horas confusas de
acréscimos de movimentos dos alunos na porta da Faculdade, nos corredores,
ao término das aulas do turno da tarde, e daqueles que se acumulavam nas
proximidades do restaurante para o jantar vespertino/noturno. O saguão dos
elevadores, nem falar! Masculinos e femininos disputavam o exíguo espaço.
PEDRO CALMON, com seu inseparável sorriso, apareceu, e logo um
providencial corredor humano se lhe ofereceu. Na porta, cavalheiro como
era, mandou que as senhoritas e senhoras a ele se antecipassem. Uma colega
interrompeu sua delicada intenção:
- Não, Magnífico, a vez é do
Senhor!
Então, ele lentamente encarou, de alto a baixo, o belo
corpo da moça à sua frente, e exclamou, numa expressão maravilhada:
- MAGNÍFICO... EU?!
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Do mesmíssimo,
outra.
Final da década de 50, início da de 1960.
Vou à
Faculdade, na intenção de regularizar a matrícula, após o árduo
vestibular. Das portas à Secretaria inalo ar diferente, pouco respirável:
vestígios de gás lacrimogêneo, sobra dos embates dos alunos (CACO) com os
policiais nos dias anteriores. Assentos-carteiras e galões de água tinham,
então, sido lançadas/despejadas do quinto andar sobre a cavalaria policial
que retinha os alunos no prédio. Também foram jogadas, pelos
“prisioneiros”, rolhas no asfalto da rua frontal para que os cavalos
escorregassem... E tome gás lacrimogênio!
O Magnífico Reitor teve
que se deslocar do bairro da Urca, de onde comandava as faculdades
“nacionais”, para o local da confrontação.
Identificado,
deixaram-no passar. Portas fechadas, às suas costas, um longo, silencioso
e misterioso momento se fez.
Súbito, uma delas se abriu, e os
alunos apareceram conduzidos pelo PEDRO CALMON, que mandou o recado final
e definitivo ao Comandante da tropa e seus policiais:
- POLÍCIA
AQUI, SÓ COM VESTIBULAR!
Esta frase foi eternizada numa placa de
metal afixada e inaugurada solenemente numa das paredes do saguão de
entrada da então Faculdade Nacional de Direito.
Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email
miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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