01/08/2019
Ano 22 - Número 1.135
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
Fundo de Gaveta INTERPRETA - AÇÕES
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Quando chegou a casa, a esposa já o esperava quase à porta,
esbravejando ciúmes por todos os lados enquanto segurava o amarfanhado
jornal do dia:
- Ô patife, ô mentiroso! Você me disse ontem, com a
maior cara de anjo, que o nosso carro enguiçara e precisava de alguns dias
para reparos! E de quem é este carro nessa fotografia aqui, com o mesmo
número de chapa do nosso, todo amassado, lá na estrada da Gávea, com um
homem e uma mulher machucados? Vai dizer que é coincidência, não é? Dois
números iguais! Deve ser um pequeno engano do pessoal lá do Trânsito!
Ou arranjou um fiscal míope, hem?
- Eu explico, mulher!
Calminha... calminha... Me escute, por favor! - ele tentava rebater.
- Cala a boca, senão quem emplaca a sua fachada sou eu! Ainda tem a
cara de pau de querer se justificar... Aqui está, nesta foto! Para
disfarçar, ainda botou um chofer contratado na frente e uma sirigaita lá
atrás, junto com você. Tava de namorico, não estava?
- Você está
louca, Matilde! Contenha-se!
- Como, safado? Daqui a pouco, os
vizinhos e conhecidos vão xeretar, vão querer saber dessa história toda!
Já mostrei pros seus filhos, eles estão emburrados lá no quarto, não
querem saber de te enfrentar, são uns bostinhas! Nem eu quero saber agora
de todos vocês aqui! Arranje outra, bocó! Vá passear!
- Vou mesmo,
mulher, mas só voltarei depois que esta palhaçada acabar!
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Quarto trancado. O colchão estremecia sob o corpo enorme de Matilde
Silva Castro, Chorava, chorava de raiva, custou a se apaziguar. Retornou à
leitura do jornal. Desceu das manchetes para as primeiras letras da
reportagem e, na outra página, ela lhe revelava: “A moça ferida, Tereza
Santos, comerciária, 21 anos, moradora em Higienópolis, nos esclareceu sua
presença no automóvel do comerciante Silva Castro:
- Meu noivo
sempre teve a vontade de ter um carro. Me dizia que tava para apanhar um
empréstimo de um amigo e comprar um. Me dizia que era bancário, e que,
fora do trabalho, fazia uns bicos em nem sei o quê. E ontem, quando menos
eu esperava, apareceu lá em casa numa hora de minha folga, hora de almoço,
com aquele fusca. Me chamou e, com o dono do carro perto, me convenceu a
dar umas voltinhas rápidas. Eu não sabia se ele dirigia bem, ou não...
Agora, tá todo enrolado... era um principiante, foi para o hospital!
E acrescentou à gravação:
- E bem que podia me dizer que também
era um simples guardador de automóveis, que eu gostaria dele do mesmo
jeito!
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Quanto ao Senhor Silva Castro, voltou, sim, para casa. Resmungou sons
entre silêncios, trocou poucas palavras com os familiares, passou a dormir
no sofá da sala.
Segundo Tenente da Marinha, ele, afinal,
mastigou, inconformado, muitos pensamentos, e assim decidiu,
maritimamente, antes de agir:
- Ela vai me pagar! Nunca mais vou me
afundar naquela cama e me atracar com essa Jubarte furiosa!
(Entre
nós: colisões em altos e verdes mares bravios, certamente)!
Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email
miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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