Parte I
Acordou?
Já se deu parabéns por estar vivo para mais um
dia? Células renovadas no repouso da noite, agora é escolher o destino da
manhã, entre indecisões concretas e imaginárias. Aceitação do dia que se
oferece. Primeiros olhares, primeiros sons, primeiras vozes. E me confesse:
qual o seu deus? Não importa, basta acreditar que o ar que aspiramos é a
primeira sensação de energia que invade nossos corpos e que nos seguirá no
embate de muitas emoções, até o nosso último sono.
À janela, encarar
o brando sol desta manhã de próximo outono, absorver seus primeiros raios
para se fortalecer contra os incertos pesares nesta Terra, onde a beleza dos
nossos irmãos, dos nossos animais, das nossas plantas passeia sob nossos
olhares sobre os campos e as serras infindáveis e infinitas de amor e paz.
Teimoso habitante-escravo das planícies? Abandone a mesmice dessas
paragens, adquira o prazeroso e necessário hábito de subir às montanhas.
Entre os bocejos da manhã, contemplar, lá do alto, os contornos da sua amada
cidade, cativando-lhe novos ângulos, incentivar a curiosidade da descoberta
de horizontes novos e caminhos antes estranhos. Alegrar-se interiormente.
Mais tarde, num domingo ou num dia de ócio, repetir as caminhadas, renovar e
ampliar essas descobertas.
Parte II
Mas se nunca o fez, não se
intimide ou se envergonhe. A imprensa carioca, por exemplo, já denunciou que
grande parcela da população jamais pisou nas pedras do alto do Pão de Açúcar
e do Corcovado. Os turistas os superam, e depois, em suas terras, nos
invejam, construindo, em suas cidades principais altíssimas torres para,
pelo menos assim, contemplarem as suas panorâmicas paisagens.
As autoridades municipais ainda tentam compensar a omissão carioca,
encurtando os preços de acesso em determinado mês.
Entretanto, o
verdadeiro e salutar objetivo não é adorar estes típicos marcos turísticos,
mas se conscientizar de que a floresta, ao redor, é gratuita oferta, bem
como os passeios que, aos domingos, a Administração do Parque coordena. Se
gostar, prepare-se para engajar em tantos outros passeios pelas montanhas,
rios e mares que o Rio generosamente lhe oferece.
Em frente, amigo! (sem
trocadilhos). Músculos elásticos e alongados, braços fortes, pernas firmes,
mochila estratégica às costas, bonés protetores à cabeça, tênis ou botas
resguardando seus importantes pés, daí em diante o sucesso é consigo mesmo!
Parte III
Mas... se isto ainda não é o que lhe apetece, pare, relaxe
pensamentos, apoie seu corpo sobre as pernas em joelhos dobrados, assuma uma
tentativa de meditação, mãos em concha aguardando energias cósmicas. E se
gosta da tranquilidade sugerida por uma música, abençoe seus ouvidos com
acordes suaves. La canción del alma é boa, para começar...
Se nada disto
lhe atrair, se tiver, ao seu lado, alguém a que ame e lhe ame, rosto no
travesseiro próximo, procure outros amanheceres que preencham seu êxtase
pessoal, mendigando, sem destino, novos ambientes e afetos.
Jamais viver
encaramujado, porque a vida vai além das nossas dimensões vivenciais.
( Fim )
A tempo, amigos:
Cada um desperta como achar melhor. Em vista
da coincidência do tema “amanhecer” humano, destaco a publicação de “O gênio
e seus ovos fritos”, na coluna do Ancelmo Gois d”O Globo” de 01 de abril de
2019, que adiante transcrevo: “O maestro João Carlos Martins, 78 anos, está
no GQ que chega hoje às bancas. Dono de um humor refinado, ele conta na
revista sobre seu retorno aos palcos, da parceria com a banda de heavy metal
Angra, além do novo trabalho como influenciador nas redes sociais:
'Primeiro, alimentava a alma e, depois, o físico. Eu acordava e já ia tocar
seis prelúdios de Bach. Agora, inverti. Levanto e vejo se meu nome não está
nos obituários. Se não estiver lá, peço dois ovos fritos e ando pela sala
regendo uma peça de Bach que ouço na cabeça. Depois, continuo estudando o
novo repertório que vou reger'", conta o maestro. Figuraça!
FIM (mesmo).
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miltonxili@hotmail.com