Milton Ximenes Lima
“Caixistórias”
BUROCRACIAS
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Questão de “entendimento”
Teste de paciência bem árduo para aquele dia do Gerente da Agência Petrópolis
(RJ), há muito tempo atrás; convencer o curioso mas persistente cliente de
que suas reclamações não tinham razão, nada houvera de prejudicial para ele.
Pela manhã, pouco depois da abertura das portas, o homem, modestamente
vestido, retirou do bolso do velho paletó um pacote envolvido com folhas de
jornal, desembrulhou-o, e, através do guichê de um dos caixas, depositou suas
economias.
Quase no final do expediente, portas já quase fechando, reapareceu, e procedeu
à retirada do mesmíssimo valor. Aí, pegou as notas, olhou-as demoradamente bem
de perto e reclamou ao Caixa (na época chamado de Tesoureiro):
- Este não foi o dinheiro que depositei aqui... os números das notas estão
todas diferentes! Quero é receber aquelas notas que entreguei ao Sr. hoje, de
manhã! Tenho todos eles anotados nesta lista aqui, ó! Quero o meu dinheiro
mesmo!
O funcionário apresentado, documentado, e materializado
Já três colegas, em ocasiões diversas, me cobraram:
- Você já não contou ainda aquela do memorando?
-Tá bem, tá bem, não adianta pressionar... - comentei.
E aqui vai ela, por incrível que pareça.
Em determinada seção, o experiente Chefe recebia um novo funcionário, enquanto
lia, intrigado, os termos do memorando vindo da área de Pessoal, hoje Recursos
Humanos, que o homem lhe entregava:
... ”Estamos, EM ANEXO, lhe apresentando o escriturário...”
Ab...surdo
Tempos da demolida Sede-Agência Treze de Maio, no setor de “Conferências”, bem
defronte ao salão de elevadores. O cliente comunica que perdeu a então popular
caderneta de depósitos. Tomadas as providências necessárias, mandaram-no para
um dos guichês de caixas... Lá, o colega, provavelmente um Tesoureiro,
passou-lhe um papel, orientando-o:
- Escreva aí “Recebi a segunda via”.
- O quê? – indagou o depositante.
Recebi a segunda via – repetiu o Tesoureiro.
- O quêêêê?!
Notando a deficiência auditiva do cliente, o colega, voz mais alta e calma,
renovou o pedido. O cliente, um dos ouvidos colado no buraco do vidro do
guichê, balançando a cabeça afirmativamente, pareceu finalmente entender.
Localizou sua caneta e passou o recibo.
Quando o Tesoureiro recolheu o documento lá estava estranhamente escrito:
“Recebi a cegonha viva”
Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
miltonxili@gmail.com
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