Milton Ximenes Lima
“Caixistórias”
MACACOS E HOMENS: IMPRESSÕES DIGITAIS
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Em tempos que já se perderam na lembrança,
imagine você passeando pelo Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e
inesperadamente se deparando com um colega da CAIXA ECONÔMICA às voltas com um
chimpanzé! Identifica-o: conhecido ocupante da então função de conferente,
responsável, entre outras coisas, pela verificação da autenticidade das
assinaturas e impressões digitais dos clientes. “Coisa esquisita”, você pode
pensar, ou, vendo-o com uma máquina de fotografia, concluir: “ele está sendo
piloto de sigilosa campanha publicitária da CAIXA, vai aparecer em cartazes em
todo o Brasil. Tá com prestígio!” Na verdade, na presença e ajuda do tratador,
que inicialmente atraira o animal com frutas, o Conferente colhia as
impressões digitais das duas mãos do bicho. O dócil macaco, lá com seus
pensamentos, também olhava para seus dedos sujos de tinta preta e, ao mesmo
tempo, várias vezes, encarava seriamente o Conferente, com um olhar firme e
indagador. Hoje, este papel com as impressões e as fotos constituem valiosas
peças do seu acervo técnico. Sua excêntrica e rara atitude foi olhada com
carinho e admiração pelos colegas de profissão, e estão no arquivo das suas
curiosas recordações de aposentado.
Na verdade, porém, ele participou daquela cena por outros motivos. Competente
e apaixonado por seu trabalho, ele foi escalado para dar aulas em Niterói
(RJ), e, numa delas, confessou que lera um artigo jornalístico insinuando que
as impressões digitais do macaco coincidiriam com as de um oligofrênico, e que
gostaria de um dia esclarecer isto...
Um aluno captou a sua curiosidade, e, usando dos seus relacionamentos,
arranjara-lhe aquela “entrevista” no Jardim Zoológico. Não chegou, contudo, a
nenhuma certeza quanto às semelhanças das impressões dos primatas com as dos
deficientes mentais, mas constatou que se tratavam de impressões com ausência
de sinais tecnicamente chamados “deltas” comuns aos humanos, o que, de certo
modo, dificultariam a implantação científica de identificação do sistema
criado pelo cientista Vucetich. Quando as mostrava em aula, em comparação com
as impressões humanas, os alunos, testados, ficavam surpresos e confusos, até
quando ele revelava as origens daqueles traços.
(Ao conferente e professor Álvaro RobertoFigueiró
MURCE, propiciador deste texto).
(07 de dezembro/2012)
CooJornal nº 817
Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
miltonxili@gmail.com
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