Subitamente, a surpresa de ser designado para uma missão no sul do país, com previsão de duas semanas de ausência do Rio de Janeiro, onde ocupava alta função. A princípio, desconfiou de alguma jogada política para deslocá-lo para outra área administrativa, mas nada disso se confirmou: ele iria ao sul como representante da empresa no lançamento de novo produto bancário.

Lá, final dos trabalhos diários, o quarto do hotel ampliava sua solidão. Por questão de cortesia, aceitou, em princípio, os oferecimentos dos colegas para frequentar restaurantes típicos, conhecer lugares turísticos. Esquivou-se, delicadamente, depois.

De novo solteirão graças a recente divórcio, queria era discreta companhia, sem badalações ou envolvimento com pessoas do trabalho. Nem falar em visitas a lugares especiais! E, para chatear, no hotel existia sutil advertência de que não eram permitidos encontros em suas dependências.

Uma tarde, quase noite, telefonema da portaria:
-Apartamento 601? Dr. Marcos Paiva? Está aqui uma moça, vestida de uniforme de colégio, querendo falar com o senhor. Seu nome é Ana Maria Lima Paiva. O senhor a conhece?

-Ana Maria? Conheço sim senhor! É minha sobrinha Aninha. É filha da minha irmã, que mora aqui, lá no Jardim das Tulipas. O Senhor pode deixar ela subir...

Quando a mulher entrou e desfilou seus encantos quase juvenis pelo quarto, ele finalmente sorriu, satisfeitíssimo. Ali estava sua última criação, conquista sua, triunfo de premeditada inteligência: ela era flerte em um aconchegante restaurante, a quem dera, naquela tarde, um banho de loja de roupas estudantis, observações também quanto a um jeito mais jovem aos cabelos, nada de maquilagem, bem como a compra de alguns livros, que ela ali trazia, desajeitadamente, sob braço direito.

Enfim, agora, sós, estavam prontos para as lições do dia (ou da noite)!


(02 de novembro/2012)
CooJornal nº 811