Surpreendo-me. Altas horas, céu límpido naquela madrugada de verão, que, por
causa do calor, me faz procurar a brisa da varanda da minha casa. Mesmo com
meus míopes olhos, surpreendo-me com a estrela que arranhou o espaço da
noite, da esquerda para a direita do meu olhar. Reincorporo-me,
imediatamente, às emoções daquele menino medroso, lá num Cachoeiro de
Itapemirim já perdido nas dimensões do tempo, quando, entre as ramagens das
árvores do quintal, vi, pela primeira vez, aquele desfile estelar. Medroso,
sim. Na minha interpretação, cadente era o nome deste tipo de estrela. E
cadente significava cair, e porque não cair sobre a Terra e decretar o fim
da gente, da família, do mundo? Além do mais, era na época da última guerra,
o som alto e ruim do rádio da vizinha assustava a gente com intercaladas
notícias que, na interpretação ingênua do meu cérebro, previam uma
arrasadora invasão alemã, bombas caindo do céu! Corri para o quarto e, pela
primeira vez na vida, cinco para seis anos, senti aquela sensação de uma
energia angustiada a percorrer a coluna vertebral e terminar numa pontada na
cabeça. O nervosismo ficou então arquivado na minha imaginação, escorregou
para o meu arquivo mental.
As coisas se abrandaram na minha
imaginação com o conhecimento do Natal, quando
me foi apresentada
festivamente a estrela de Belém, bondosa guia mística dos Reis Magos na
busca do novo Rei, que suas próprias previsões anunciavam. Uma substituiu à
outra, fiquei muito envolvido com as narrativas que cercaram o nascimento e
a vida do Menino Jesus. Tempos de aceitação do tudo, do aprendizado do
catecismo das melhores intenções do catolicismo da época.
Muito mais
tarde abracei inteiramente a curiosidade do mistério das estrelas e acredito
que elas escondem de nós, dentro das suas distâncias imensuráveis, galáxias
de conhecimentos inimagináveis a que os homens do futuro, se não
assassinarem a Terra, poderão, um dia, ter acesso.
Por enquanto,
porém, sejamos modestos nestas viagens espaciais e, primeiramente, tentemos
aperfeiçoar nossa estrela interior. Para isso, aí está novamente chegando o
Natal para engrandecer nossos pensamentos e gestos com muito amor. O Natal
vai além das comemorações rotineiras do fim de ano, dos procedimentos
mercantilistas induzidos pela mídia, da simples e esperada contemplação da
Sagrada Família nos presépios. É trazer o Menino-Deus para dentro do seu
coração em todos os dias do ano e não só neste período. Não se fiar nas
verdades das pessoas e coisas, por mais que neles se confie. Aprender a se
afastar, da melhor maneira possível, dos pensamentos e emoções negativas,
dos hábitos nocivos, das crenças equivocadas. Descobrir, definitivamente,
que a Luz está dentro da sua alma e, quando você tomar consciência deste
tesouro, aí sim, comemorará o seu próprio e verdadeiro Natal, e... por toda
a sua vida!
(RT, 16 de dezembro/2011) CooJornal no 766...
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