Caros amigos: há mais de 70
anos cidadão deste imenso país, sou, portanto, “um idoso”. Desocupado
não fui, cerca de 35 anos dei minha contribuição laboral à Pátria amada,
bem como paguei todos os débitos oficiais inventados para se habitar e
se trafegar por suas terras. Nada mais justo, agora, a gente, mal ou
bem, se balançar na sua rede protecionista (Lei 10.741/03, o Estatuto, e
Decreto 5934/06), que me abre um leque de gratuidades desde os 60 anos.
Bem, no dia 5 de setembro, depois de longa e gratuita viagem de
ônibus desde Vila Isabel até o Rio Centro, enfrentei as filas de entrada
da Bienal, no Pavilhão Laranja. Munido da carteira de professor expedida
pela Diretoria do Ensino Comercial do Ministério da Educação e Cultura
(1970), quis me valer da orientação publicada em folheto d´ “O GLOBO” de
01.09, assim redigida: “Professores têm entrada gratuita, com
apresentação de comprovante de profissão, carteira de identidade e CPF”.
(pág.7). Então, ali, eis outra a realidade : - O Sr. tem que preencher,
primeiro, um formulário, lá em cima daquele balcão. Era o
“credenciamento de profissionais do livro, professores e
bibliotecários”, que exigia, para os professores, “carteira de trabalho
com o cargo Professor, Carteira de Professor da Escola Municipal,
Carteira de Professor de Escola Estadual, Contracheque atual com cargo
de Professor, cartão do INSS (caso seja professor aposentado), Diploma
(ou cópia) de licenciatura em letras e/ou pedagogia, Carteira do SINPRO
(Sindicato Nacional dos professores), Carteira do CREF (Conselho
Regional de Educação Física)”, sujeitos ainda a exame da Organizadora.
Entendi o recado, troquei o exorbitante credenciamento pelo imediato
pagamento: deixei na bilheteria os cobrados seis reais dos idosos e
menores. Ora, o que me motivava estar ali não era me aborrecer e perder
tempo com tais exigências, mas saborear o passeio literário pelos
corredores dos três pavilhões, e voltar para casa antes do escurecer.
Muitíssimos escolares, crianças e adolescentes, do Rio e de fora,
ruidosamente curtiam um dia diferente na sua vida de estudante,
aproveitavam os jogos eletrônicos e virtuais oferecidos, assistiam a
teatrinhos, se sentavam em lugares que o(a)s professor(e)as entendiam
apropriados para os lanches. Notei bom afluxo de público a uma livraria
especializada em gibis com heróis “importados”, e a outra, que
apresentava livros novos, alguns de autores renomados, a preços
convidativos, talvez resultantes de encalhes de edições. Gostei muito de
um painel colocado entre dois “estandes”, onde estavam impressas
significativas poesias: Ser Grande, de Fernando Pessoa, e Das Utopias,
de Mario Quintana, que, respectivamente, aqui relembrarei: 1) “Para ser
grande, sê inteiro: nada/teu exagera ou exclui./Sê todo em cada
coisa.//Põe quanto és/no mínimo que fazes.//Assim em cada lago a lua
toda/brilha, porque alta vive. 2) Se as coisas são
inatingíveis...ora!/Não há motivo para não querê-las...//Que tristes os
caminhos, se não fora/a presença distante das estrelas!. Gostei também,
muitíssimo, de abraçar e parabenizar a amiga, acadêmica, jornalista e
colega da Caixa Econômica, Maria Augusta dos Santos, presença fiel nas
Bienais, pelo lançamento do seu 15º livro, “História do Brasil: O
Superior Tribunal Militar”.
Escolares de Teresópolis com a escritora Maria Augusta
Foto MXL
Enfim, para encerrar, O
Globo trombeteou, em 12.09 (pg.14), o recorde de público, 670 mil
pessoas, faturamento de 58 milhões, 12% a mais que a anterior, 2.8
milhões de exemplares vendidos (aumento de 15%), e investimento de R$4,2
milhões na programação cultural.
Escolares em pausa
Foto MXL
A não ser o livro da Maria Augusta, nada adquiri. Não por economia, é
que já não tenho muito espaço em casa. E me conformei com o
gratuito catálogo de obras da Editora do Senado Federal, por
sinal indicativo magnífico para quem gosta de História do Brasil.
Agora, cá entre nós, já distantes as emoções daquele dia, fiquei
matutando no quanto pesaria no sucesso financeiro do evento gerido pela
FAGGA se me fosse permitido deixar de pagar os tão exigidos... seis
reais!
Entre dois pavilhões
Foto MXL
(23 de setembro/2011)
CooJornal
no 754