01/08/2024
Ano 27 - Nº 1.377





ARQUIVO
MILTON XIMENES

Milton Ximenes Lima




PELOS TÚNEIS DO METRÔ

 

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal





Foto MXL


RIO (I)
Cada vez mais as pessoas vão se conscientizando da utilidade do metrô como meio de transporte rápido e eficaz. Distâncias diminuíram entre o lar e o trabalho, ou o lazer. Acresça-se a isto a criação dos ônibus de conexão que, preço embutido na passagem original, apanha ou deixa, praticamente, o carioca dentro do seu bairro.

Mas quem, observo, está bem esperto no ambiente é a turma do ramo da propaganda. Além dos imensos painéis das estações, até os degraus das escadas, e as superfícies superiores das roletas são utilizadas. Os vagões, vez ou outra, são embrulhados externamente por plásticos coloridos transparentes até sobre as janelas, deixando os vidros embaciados. Depois, inventaram/improvisaram um curto cineminha na parede do túnel, para quem vem da zona norte, chegando à Estação Carioca: um garoto surrupia da cozinha um “produto” gostoso, vira-se para os passageiros, pede-lhes conivente silêncio com o dedo indicador sobre os lábios, e sai correndo na direção do... desenho maior da embalagem do “produto”! Com a Copa, idealizaram painel com várias pessoas com camisas amarelas, colocadas lado a lado, que, à passagem do trem, levantam os braços, em imitação de torcidas. Hoje, uma fileira de pessoas são projetadas, repetindo o gesto para outro tipo de propaganda.

LONDRES ( I )
Aproximadamente mês e meio antes da tragédia terrorista (julho/2003), as autoridades sanitaristas da cidade fizeram um apelo para, pelo menos três vezes por semana, os usuários do metrô tomassem um banho, já que estava se tornando irrespirável o ar-ambiente dos vagões, sempre lotados.

LONDRES ( II )
Logo após o atentado de 7 de julho, as equipes de resgate, com indumentárias próprias a um possível calor de 60 graus, alcançaram as galerias do metrô, mesmo ameaçados por possíveis desabamentos e ataque de quantidade enorme de ratos, e ainda pisando sobre corpos ou pedaços deles, na busca de sobreviventes. Impressionou-me o relato do Sargento Steve Betts, (imaginem a cena, como eu imaginei) dizendo que “parecia que alguém espalhara um monte de manequins pelos vagões”, e descrevendo a angústia dos militares “quando telefones celulares das vítimas começaram a tocar, em ligações ou avisos de mensagens de voz ou texto de familiares e amigos”, e que não puderam ser manejados por eles, por fazerem parte da cena do crime...

RIO ( II )
No verão de 2010, depois das 17 horas, plataforma da Estação Carioca apinhada, o passageiro entrou no primeiro vagão que se abriu à frente do seu corpo. Lá dentro, portas fechadas, é que notou que o ar refrigerado não estava funcionando. Desespero crescente: todos se comprimindo, disputando espaços, se segurando onde podiam, suando, lenços e toalhas menores dançando nos rostos, e o ar melhor só se fazendo presente na abertura das portas nas paradas das estações. A elegante camisa de mangas compridas (festa na associação de funcionários), colou no seu corpo, empapou. Armou estratégia: passaria para outro vagão em parada maior da composição, o que ocorreu na Estação Central. Alívio, enfim! Bem, alívio... parcial, porque descobriu aberta a bolsinha de moedas de cintura, sem cinquenta reais e alguns documentos. À exceção do dinheiro, recuperou os documentos, inclusive já invalidados por bloqueios. Não conseguindo fazer contato pessoal direto, “quem os tinha achado” (?!) os deixou na portaria do prédio onde trabalhava. E acrescentou que estavam juntas as carteiras da esposa dele também! (Nome e sobrenomes desconhecidos). Pelos dados nelas obtidos, encontrou-se com a tal esposa, que esclareceu ter sido também “pungada”, mas na parte da manhã daquele mesmo dia...

RIO ( III )
Para identificação das composições, os administradores do Metrô-Rio escolheram a luz verde para a sinalização dos vagões da linha 2, Botafogo-Pavuna, e a luz vermelha para os da linha 1, General Osório-Praça Saens Pena. Pergunta-se: como serão orientados os daltônicos?

Foto MXL

RIO ( IV )
De estatura física alta, sempre bem “arrumadinho”, meu afilhado me desabafou, certa vez:
- Padrinho, não é uma boa essa minha altura dentro do vagão do metrô. Outro dia embarquei num, inchado de tanta gente. Alguém lá se descontrolou, largou uns gases que incomodaram... Teve gente se mexendo, pigarreando, coçando nariz, abrindo risinhos, e todo mundo, depois, desconfiado, olhando disfarçadamente nos olhos dos seus vizinhos. Eu quietinho, lá no alto da minha altura, apreciando o panorama, na maior educação... E não é que, pouco a pouco, todos aqueles olhares próximos, lá embaixo de mim, começaram a me “encarar”, como se eu fosse o esperto autor do pum! Parecia que o meu comportado silêncio me condenara a ser um estratégico “peidófilo!” Pô, padrinho, saí de lá muito chateado! – concluiu.


(Revista Rio Total, Ano 14, CooJornal nº 729, 02 de abril/2011)

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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com


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