15/01/2011
Ano 14 - Nº 718
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
RUBEM BRAGA/ RUBEM-BRAGUICES (II)
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Cachoeiro, Casa dos
Bragas – Foto MXL
PERSONALIDADE
Conheci só o também talentoso prosador e poeta
Newton Braga, seu irmão, pessoa extremamente afável, accessível. Rubem,
diziam, não tanto. Daí a minha sadia inveja, quando trabalhava na Caixa
Econômica Federal, do colega e amigo Álvaro Roberto Figueiró Murce, que, na
qualidade de Gerente da Agência Ipanema, teve a oportunidade de vê-lo,
identificá-lo, e, algumas vezes, atendê-lo, descrevendo-o como um homem
casmurro, interiorizado.
Outros depoimentos:
UM Rubem Braga era
homem de poucos amigos... Eu ficava constrangido de apresentá-lo às
pessoas... Era uma personalidade muito complexa. Tinha uma sensibilidade de
poeta, mas não gostava de intimidade. (Jornalista gaúcho Carlos Reverbel,
que conheceu Rubem em 1935, cobrindo as comemorações do centenário da
Revolução Farroupilha para a Folha do Povo de Recife, e que com ele conviveu
em 1939, quando Rubem era redator do Correio do Povo e colaborador da Folha
da Tarde (crônica diária), em Porto Alegre. (Reportagem de capa da Revista
Zero Hora, em 19.05.1966, de Jerônimo Teixeira}.
DOIS “Feroz em seu
focinho de lobo solitário” (Vinicius); “esquivo e desconcertante”
(Drummond); “varão justo, limpo e sábio’ (Otto Lara Resende); “Um lírico que
se corrigia com o humor” (Paulo Mendes Campos);“ Rubem Braga provavelmente
escondia, por trás da aparente carranca, a alma de menino curtidor de
pitanga, rapadura, mato, sol, brejos, flores, formigas e, claro,
passarinhos.” (João Máximo, artigo no JB, Cidade, fl..6, de 21.12.1990).
TRÊS ...; “era caladão e carrancudo (chamavam-no de urso), mas fez da
amizade um sacerdócio (Jornalista Álvaro Costa e Silva - Gazeta Mercantil,
10.01.2005, “Fim de Semana”).
QUATRO Jornal da ABI – Associação
Brasileira de Imprensa, set/out/nov/2002. fls.10 e 11; texto: Temos
saudades- breve e singela homenagem a alguns companheiros que estão em outro
patamar, de Anderson Campos. Subtítulo: Braga, o mal-humorado. “Oposto de
Antonio Maria, o velho Rubem Braga era irascível, mal-humorado e péssimo
vizinho. Seu humor só variava na presença de Tonia Carrero (a Mariinha), sua
grande paixão, ou após o segundo uísque servido no seu latifúndio da rua
Barão da Torre, em Ipanema, onde cultivava dezenas de plantas e árvores.
Daí, aliás, a bronca dos vizinhos, porque as raízes das árvores do Braga
estouravam as divisórias e muros. Embora desfrutasse da convivência de
dezenas de artistas, Braga tinha total assintonia com a música, seja ela
qual fosse. Esse fato levou seu amigo Paulo Mendes Campos ao seguinte
veredicto: “O Braga tem ouvido de pau”.
CINCO Millor Fernandes, JB,
19.01.2003: “Há 10 anos exatamente morria Rubem Braga, o sólido, solitário e
casmurro capitão de Ipanema, o cantor melancólico de Cachoeiro de
Itapemirim, o sabiá da crônica... Conheci Rubem Braga a vida inteira. Li
Rubem Braga a vida inteira. Foi, sem dúvida, o ser humano que mais admirei a
vida inteira.”
SEIS Luiz Garcia, crônica Magra Terça-feira, fl.7, O
Globo, 28.02.2006: “Ora porque ele inventou a crônica da falta de assunto.
Encarava a página em branco (para os mais novos, página é o que hoje
chamamos de tela) e partia cavalgando em todas as direções, aparentemente
sem rumo nem propósito. Mas sempre chegava ao fim do espaço determinado, com
arte e graça.”... “Rubem tinha má dicção, no que parecia com o Castelinho (o
Castelo Branco que durante anos foi o maior nome da crônica política
nacional). Ambos falavam mais para dentro do que para fora. Um dia, garoto
ainda, vi-os num jantar, sentados a metros de distância um do outro:
dialogaram horas, e quase ninguém entendia patavina. Certamente disseram
coisas de alta relevância – mas para a plateia hipnotizada, era como se
fosse uma conversa de fanhos....”
SETE Edvaldo Pacote, jornalista da
Rede Globo, depoimento a Luciano Trigo, O Globo de 21.12.1990: “O Rubem era
um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao
mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele
entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as
mulheres.”...
OITO Affonso Romano de Sant´Anna, na crônica Rubem, o
passarinho: “Era um econômico em termos de palavras. Aí está a explicação
melhor para o seu estilo. Quem com ele convivia teve que aprender a
conversar com ele ao seu modo. Ou seja: ele não falava em linha reta. Fazia
grandes silêncios, ficava com o ar de que não estava nem ali e, de repente,
soltava uma frase que arrematava ironicamente tudo.”... “Todos sabiam que
ele era meio esquisito ao telefone. Ligava, ia conversando, falando as
coisas e, de repente, achando que já tinha dito e ouvido o que queria, se
despedia abruptamente deixando o outro no ar.” (O Globo, 23.12.1990).
NOVE Maciel de Aguiar, escritor residente no Porto de São Mateus, ES,
confessa, na crônica “O cadáver sou eu”, publicada na Gazeta de Vitória e
transcrita no jornal-revista Sete Dias, de Cachoeiro, em 14.01.2006...”Mas
não tinha jeito, ele era mesmo carrancudo, intragável aos estranhos,
monossilábico nas respostas e fazia questão de não arredar pé dessa
posição.”
(continua)
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Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
miltonxili@hotmail.com
Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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