15/01/2011
Ano 14 - Nº 718
ARQUIVO
MILTON XIMENES
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Milton Ximenes Lima
RUBEM BRAGA/ RUBEM-BRAGUICES (I)
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Cachoeiro (parcial) – Foto MXL
PRELÚDIO - a descoberta:
No Rio de
Janeiro, no Colégio Pedro II, Internato, anos 1951 a 1956, fazia parte do
quadro de horário de aulas, principalmente para as turmas ginasianas, uma
“aula vaga” para obrigatória ida semanal à biblioteca, onde cerca de cinco
mil volumes, alguns preciosos, nos eram oferecidos. Leitura livre, sem
imposições “acadêmicas”. Numa dessas oportunidades, quis conhecer os textos
do conterrâneo Rubem Braga. Caiu-me no gosto, primeiramente, o “Com a FEB na
Itália”, reportagens com que o Rubem, na qualidade de correspondente de
guerra, premiou os leitores do então conceituado Diário Carioca. Minha
adolescente curiosidade literária, entendi depois, estava ainda mais absorta
com as narrativas de aventuras, como as de Julio Verne e Edgard Rice
Burroughs (Tarzan) e outras, similares. As saborosas e poéticas
conversas-escritas do cronista só seriam apreendidas depois, após muitas
observações pessoais, vivências emocionais e aprendizados líricos. Aprendi,
então, a admirá-lo mais orgulhosamente como conterrâneo, e cultivando,
tempos depois, o hábito de destacar referências e notícias que, a seu
respeito, chegavam aos meus olhos. Não foi uma procura “neurótica”,
simplesmente elas apareciam, eu recortava ou rasgava páginas do jornal,
guardava-as numa pasta. Sem intervenções internetianas, não tinha nem
computador. O caminho do sucesso literário de Rubem Braga me pareceu ele não
recear o desafio da então folha de papel em branco; para Ele, ela era
simplesmente uma oferenda à sua vocação, e sobre ela exercitava,
espontaneamente, sinceros e talentosos atos de amor-escrito. Esta minha
coleta, idealizada para se transformar num longo artigo literário, já
existia quando o saudoso Marco Antonio de Carvalho nos concedeu o privilégio
de saborear seu magnífico trabalho “RUBEM BRAGA, um cigano fazendeiro do
ar”, em dezembro de 2007 (RJ). E, agora, adiante transcrevo os perfis do
Cronista retratados nos tais jornais e revistas, pretendendo, - com licença,
conterrâneo - também, colaborar na reconstrução da vida do homem-mistério
Rubem Braga, filho de Francisco Carvalho Braga, primeiro prefeito de
Cachoeiro de Itapemirim, e de Rachel Cardoso Coelho Braga...nascido a 12 de
janeiro de 1913. Portanto, aos 98 anos deste acontecimento, esta é a minha
forma de homenageá-lo.
CACHOEIRISMOS (AMOR À TERRA)
Bem
conhecida é a frase “modéstia à parte, sou de Cachoeiro de Itapemirim” com
que se apresentava em ocasiões em que a julgava necessária; muito comentada
e de origens discutidas é a (possivelmente parisiense) “Cachoeiro, a capital
secreta do mundo”. Sobre diplomacia: “tomei o partido de falar pouco, beber
muito e exprimir os tradicionais laços de amizade que ligam Cachoeiro de
Itapemirim à Casa Branca” (selecionada por Millor Fernandes, JB,
19.01.2003)... “E essa trovoada de verão é tão Cachoeiro, é tão minha casa
em Cachoeiro! Não, não é verdade que em toda parte do mundo os trovões sejam
iguais. Aqui os morros lhe dão um eco especial, que prolonga seu rumor. A
altura e a posição das nuvens, do vento e dos morros que ladeiam as curvas
do rio criam essa ressonância em que me reconheço menino, assustado e
fascinado pela visão dos relâmpagos, esperando a chegada dos trovões e
depois a chuva batendo grossa lá fora, na terra quente, invadindo a casa com
seu cheiro” (Casa dos Braga, pg.29, Ed.Record); “Sempre tenho confiança de
que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem
para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz
baixa: “Eu sou lá de Cachoeiro...” (Crônicas do Espírito
Santo)...certamente, sabemos todos os cachoeirenses, tentando cativar o
Santo padroeiro da cidade...
FRASES & CONCEITOS
Algumas
transcritas de artigo de Millor Fernandes publicado no Jornal do Brasil de
19.01.2003: Calúnia: “Falar do inferno, por exemplo, é mau... Dante e outros
espalharam muitas notícias falsas a respeito, e a pior delas é que para lá
vão os culpados.”; Discussão: “Discutir com adjetivos é muito fácil.”;
Escolha: “Devo confessar preliminarmente que, entre um conde e um
passarinho, prefiro um passarinho.” (Motivou o rompimento empregado-patrão
entre Rubem e Chatô. O conde era o multimilionário Matarazzo); Frustração:
“Não sou cangaceiro por motivos geográficos e mesmo por causa do meu
reumatismo.”; Madrugada paulistana: “Boceja na rua o último cidadão que
passou a noite inteira fazendo esforço para ser boêmio.”; Poliglota: “Falo
francês como quem cospe pedras.”; Tese: “Filosofar é, antes de tudo,
cuspir.”; Tentação: “Nesta varanda alta, sobre os veículos e os transeuntes
matinais, tenho a vontade insensata de fazer um discurso.” Outras,
encontradas na Gazeta Mercantil de 10.01.2003, Jornalista Álvaro Costa e
Silva, acolitado por Marco Antonio de Carvalho: “Fazer política é namorar
homem.”; “Peixe e hóspede, depois de três dias fedem.”; “Crônica é viver em
voz alta.”; “Ultimamente têm passado muitos anos.” Lembrada por João Máximo,
JB, 21.12.1990: “Cronista quando fica velho ou morre, o pessoal esquece.
Portanto, não tenho razão para me enfeitar.” Revelada por Marco Antonio de
Carvalho, JB, caderno Idéias, 11.01.2001: ao saber da morte de Getúlio
Vargas, de quem desgostava: “Morreu? Fica morrido...” Da página 168 do livro
O Velho do Leblon, l988, jornal literário de autoria do fértil escritor,
poeta e jornalista paraibano Ascendino Leite, destaco: “...Frase de Rubem
Braga, encerrando sua crônica semanal, ontem, num jornal paulista- “Eu
sempre fui uma besta”. Ascendino comenta: “Isso acontece aos melhores
espíritos, em qualquer país ou literatura. Mas... para que tanta
auto-depreciação? Sobretudo não sendo bem assim, nem a merecendo?”E mais
adiante, na pg.265, redige: “Dedicatórias no “Sol a Sol Nordestino”, uma
delas a Rubem Braga, poeta, que vive só, numa cobertura de Ipanema, cercado
de plantas, como num jardim suspenso. Trata-as melhor que ao gênero humano.
Certas pessoas, evidentemente, ao que se diz; ele, incrédulo do anímico,
prefere o gênio potencial das coisas naturais. - Honra lhe vem, e ventura,
quando trata do seu ‘jardinzinho”- disse-lhe, arrimado num verso de Goethe.
Enfeitava-se este de galas cênicas. Exclamava: -Grande e belo é o mundo; mas
oh como ao céu agradeço, - Por ter um jardim pequenino, bonito, meu
próprio!”. Datei e assinei.”. Em O Globo de 21.12.1990, Luciano Trigo,
retira do livro As boas coisas da vida: “-Pensar que, por pior que estejam
as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado descanso
eterno.” Descrevendo-se a si mesmo, por solicitação do Fernando
Sabino,disse: “Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o
marido que tem que dormir com a esposa; pode estar achando gostoso, mas é
uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom
funcionamento.” Luciano Trigo, idem).
(continua)
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Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ
Email: miltonxili@hotmail.com
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Milton Ximenes Lima
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