Foi apenas uma coincidência, nada havia de
programado. Quando estivemos no México, há sete anos atrás, chegamos à capital
no dia 30 de outubro de 1997. À tarde, visitamos o espetacular Museu
Arqueológico, um dos maiores e melhores do mundo e, à noite, saímos para um
passeio pelas cercanias do hotel Calindas Geneve no centro da cidade. Foi aí que
- respondo por mim - , tomei conhecimento, ao vivo, dos festejos do “Halloween”.
Pessoas, a maioria jovens, sob fantasias fúnebres e agitados gritos, disputavam
a entrada de um antigo prédio que deveria abrigar um bom salão de baile. O
costume americano, pois, já tinha adeptos ali.
No dia seguinte, paralelamente, começaram os preparativos do hotel para festejar
o Dia dos Mortos, providenciaram uma longa mesa
(foto 1),
onde depuseram comidas típicas, frutas e bebidas, formas de oferendas aos
queridos antepassados, e dispostas ali para quaisquer pessoas, hóspedes ou não.
Então soube que é tradição no país famílias, principalmente as mais humildes, se
dirigirem aos cemitérios e arrumarem sobre os túmulos mesas de iguarias e
bebidas possivelmente do gosto dos amados ausentes. Uma festa para os falecidos,
saboreada pelos vivos.
Mais tarde, no Hotel de la Borda, de Taxco, a
cidade da prata, lá estava a mesa preparada festivamente. Passando pela Catedral
de Cuernavaca, cidade “da eterna primavera”, preferida pelos veranistas de
montanha, encontrei, sob marquises do pátio, outra imensa mesa, ocupada
totalmente com comidas e bebidas-oferendas
(foto 2), e,
em destaque, um retrato grande, de um padre falecido, certamente uma lembrança
querida para os paroquianos. Louvei, também, intimamente, o bom senso da Igreja
ao conviver com os enraizados costumes populares.
Já no Brasil, em 2004, fiquei tristemente
surpreendido com a saída de alunos de um curso primário de colégio no bairro de
Vila Isabel, todos enfeitados com máscaras e trajes “halloweenianos”. Depois,
percebi, a poderosa mídia, motorzinho inteligente dos interesses comerciais
dessas datas fabricadas, a investir sorrateiramente sobre as cabeças
brasileiras, muito chegadas às ruidosas comemorações. Não condeno, esclareço, a
alegria típica dos nossos patrícios, ela é muitíssima necessária, e, sem
exageros, um justo desabafo, um descarrego até, contra as pesadas preocupações
existenciais. Condeno, sim, a macaquice, cópia irresistível de festejos
estrangeiros que nada dizem com nossos costumes...
Quase simultaneamente, o MV-B, movimento nacionalista de combate ao
estrangeirismo, espalhou oportunos cartazes por todo o Rio de Janeiro com
dizeres seguintes: “Halloween é o cacete!”.
Em outubro de 2005, hotéis, inclusive os de tipo Fazenda, programaram tal festa
como chamariz até para crianças; lojas dos centros comerciais se enfeitaram com
máscaras alusivas, televisões abertas e pagas abriram programações específicas
de filmes e desenhos animados, ininterruptamente. Até a Orquestra Sinfônica
Brasileira, no tradicional Teatro Municipal, festejou a data, com execuções de
Aprendiz de Feiticeiro (Dukas), Dança Macabra (Saint Sãens), A bruxa do meio-dia
(Dvorak) e Noite no Monte Calvo (Mussorgsky), conforme O Globo de 29.10.2005,
pg.22!
Parece que estamos perdendo mais esta patriótica batalha. Até quando vamos
suportar tais FANTASMAS ALIENÍGENAS? E desafio os poderosos do mercado de
propaganda e mídia a implantarem nos outros países uma comemoração muito nossa,
principalmente no mês de junho e prolongamentos em julho: as divertidas e
iluminadas FESTAS JUNINAS!
Prometo e juro que esperarei pacientemente... Agora, vamos ver o que nos
reservam outubro/novembro de 2010! Já em outubro de 2008 propaganda na tv
fechada, loja na rua da Carioca (RJ) com grande bruxa à porta, e lojas de
grandes centros comerciais (“shoppings”?!) já começavam a se insinuar e a se
enfeitar... Em 2009, repetições, não muito diferentes.
Vassouradas neles, amigos!
(30 de outubro/2010)
CooJornal
no 708