É possível e é necessário sonhar, para,
anos mais tarde, saborear a real visão desses mesmos sonhos. O garoto que
ainda está dentro de mim, aquele que se encantava, primeiramente, com as
lições de geografia e história no curso primário, se alegra hoje, sempre,
com a magia das viagens, porque lhe traz a certeza de estar pisando e
contemplando terras e paisagens há muito desejadas. Outrora, papéis inertes
de cadernos e livros repetidos pela professora, hoje, retratos fixos n’alma.
Breves momentos, grandes emoções:
- Barcaça singrando o Nahuel Huapi,
San Carlos de Bariloche, Argentina, e as gaivotas plainando, vindo buscar
comida às mãos de todos.
- Batizado da neve, caindo sobre nossas
cabeças, no centro de Bariloche, e, mais tarde, sob os pés deslizando em
Piedras Blancas.
- Voo Buenos Aires-Santiago, sem a turbulência
costumeira anunciada pelo Comandante, facilitando a visão magnífica, mesmo
através das pequenas janelas, do espetáculo inesquecível da Cordilheira dos
Andes, vales profundos, cumes agasalhados de neve.
- O oceano
Pacífico contemplado pela primeira vez, Valparaiso, Chile.
- Conhecer
o Urubamba, pedregoso e não muito largo rio que faz companhia aos trilhos da
ferrovia Cusco a Machu Picchu, sabendo-o um dos formadores do imponente
Amazonas.
- Acreditar-se pisando o sagrado solo de Machu Picchu,
cidade-exemplo de arquitetura e engenharia, último refúgio e despedida da
civilização inca na história do mundo, e de lá, contemplar a imponência da
Amazônia peruana.
- Apreender o sentimento de tristeza disfarçado
pelas coloridas e alegres vestimentas do povo peruano do interior, marca da
passagem guerreira dos ambiciosos espanhóis, destruidores dos seus templos e
cidades.
- Navegar nas plácidas águas do Lago Titicaca, o mais alto
do mundo. (Peru-Bolívia).
- Conscientizar-se da sensação de estar
hospedado em hotel de cidade construída no fundo da boca de um vulcão, 4.000
m abaixo do cume: La Paz, capital da Bolívia.
- Apreciar os belos e
infinitos campos de girassóis cultivados à margem da rodovia Foz do
Iguaçu-Assunção, no Paraguai.
- O outono-ferrugem das folhas nas
árvores das paisagens tranquilas e planas de Quebec, Canadá.
-
Ousadia: estar no terraço do Empire State, e, sob fortes ventos, descobrir
Nova York coloridamente iluminada.
- Entender o longo muro de granito
negro construído no cemitério de Arlington, Washington, USA, homenageando os
soldados americanos mortos no Vietnam com a gravação dos seus nomes,
vítimas, na verdade, da teimosa ambição dos seus governantes.
- Ver
de perto e tentar superar as escadas internas da francesa Estátua da
Liberdade, cartão-postal de Nova York.
- Surpresa: na ida, de ônibus,
para o teatro, em Nova York, em certas ruas mais escuras, abrigados sob
imensos caixotes de papelão, os sem-tetos da cidade.
- Em Atlantic
City, caravana de ônibus vomitando idosos em busca de esperanças nos jogos
dos cassinos. USA.
- Alegrar-se com o amor à nacionalidade plantado
nas crianças, cadernos de desenho e apontamentos à mão, mochilas escolares
às costas, visitando, com seus professores, museus, redutos históricos,
ruínas do Peru (Cusco), Bolívia (Tihuanaco), México (Museu Antropológico e
construções maias e astecas).
- A fé autêntica do povo, gente
humilde, carregando estandartes de flores, desfilando seus rostos
esperançosos diante da imagem de N.S. de Guadalupe, cidade do México.
- Subir, com nossos sacrílegos pés, as inteligentes pirâmides do México,
procurando, também, decifrá-las cosmicamente.
- Apreciar os tons de
azul-esverdeado inigualáveis que colorem as águas do mar nas Bahamas.
- Absorver a beleza das variadas flores primaveris que atapetam, agosto
e setembro, o dorso das montanhas que nos levam à Cachoeira da Fumaça,
segunda mais alta do Brasil, na Chapada Diamantina, Bahia.
- Viajar à
terra natal, depois de muito tempo ausente, e verificar que muitas pessoas e
lugares de nossos pés-meninos tornaram-se lembranças, matéria de memória...
inclusive nossa primeira professora de geografia e história no Grupo Escolar
Graça Guardia em Cachoeiro de Itapemirim, ES. (Iracema Monteiro de Souza)
(15 de maio/2010) CooJornal no 684.
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