Estátua de Carlos Drummond em
Copacabana (Rio), com um verso do poema "Mas viveremos", autor Leo
Santana
Escrever sobre, um desafio.
Desde os volumes
das velhas estantes na infância das nossas casas, os livrinhos das escolas
primárias, as famosas antologias do curso ginasial, e, enfim, na adulta
livre escolha, a gente esbarra com as vidas dos poetas e suas obras. E, aos
poucos, vamos acolhendo suas palavras, suas rimas, repetindo-as, sentindo a
canção das suas mensagens, cultivando-as no baú dos nossos sentimentos. É o
início da simpatia.
Depois, a maturidade literária nos ensina a
respeitá-los, esses homens e mulheres em constantes êxtases de criação. O
que quero dizer, em outras palavras: evitemos julgar os poetas, é caminho
bastante temerário, é, em síntese, julgar emoções. Nosso silêncio, em último
caso, é aprisionada e misteriosa sentença para as vaidades incompetentes.
Então, vestimentas de escolas, estilos, formas, tamanhos, nem a rima ou
falta dela, ou a dança das vírgulas, ou mesmo a apresentação gráfica, são
tão importantes. A beleza da poesia está nas entrelinhas do texto, delas
emanam as mensagens cunhadas pelo(a) Autor(a), fragmentam-se em emoções pelo
ar, em busca de desconhecidos corações. Nessas entrelinhas captamos
linguagens e imagens simbólicas que embelezam muitas frases, nascidas, a meu
ver, de um dom especial, possivelmente divino, em que o poeta, num momento
todo seu, é o próprio universo da criação. Ele se debruça apaixonadamente
sobre seus pensamentos e se angustia no desafio do papel em branco. Ideias,
formas, bailados de imaginação somente seus, alegrias e tropeços da sua
vida, poços profundos da sua individualidade. Neste justo instante, temos a
possibilidade do vislumbre do seu talento, ou seja, o momento exato em que
suas mensagens vão se materializar e se fortalecer para alcançar sintonia
com os possíveis leitores.
As mensagens, abstratas ou concretas,
ocultas ou diretas, repousam aí, definitivamente, na sensibilidade de uma
outra alma. É o último e real objetivo do poeta, fazer com que a carícia da
sua mensagem, qualquer que seja o estilo ou forma que abrace, afague sonhos
e realidades dessas pessoas também especiais.
Fica, apenas, a
tristeza desta vitória não ser totalmente comemorada. Após as costumeiras
agitações das tardes ou noites de autógrafos, eventos outros ou referências
na mídia, vem a frustração da impossibilidade de não saber da aceitação, ou
não, da sua obra. Silenciosa, lenta, é a resposta à indagação de até onde e
a quantos alcançou sua “criança”. Mais gratificante seria o testemunho
pessoal da sua acolhida pelas mentes e vozes do leitor, às vezes tão longe
dos seus olhos e ouvidos, principalmente neste Brasil tão vasto! Ninguém
costuma escrever ao escritor/poeta! E as editoras ainda não acordaram para
criar esta solicitação dentro dos próprios livros...
Não faz mal, um
dia isto se aperfeiçoa. Os poetas sempre sobrevivem. “Atrás do rebanho, os
poetas. São eles os pastores das palavras.” (Ascendino Leite, in A Velha
Chama. 1974, Livraria S.José).
(24 de abril/2010)
CooJornal no 681.
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