18/07/2009
Ano 12 - Número 641
ARQUIVO LÍLIAN MAIAL
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Lílian Maial
Eu morri um pouco com Michael Jackson |
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Um pouco da minha história se foi com ele. Cada época da minha vida
foi embalada por algum sucesso dele, fosse ainda com o Jackson Five,
ou já como o fenômeno Michael. Mais um ídolo me deixa com essa
estranha sensação de perda, de apagamento da minha própria história,
lenta e gradual.
Quem, hoje, entre os 40 e 60 anos de idade, já não imitou alguns
passos do “Moonwalker” (aquele em que os pés parecem caminhar para
frente enquanto o
corpo desliza para trás) ou do “Thriller” com sua inigualável e
original coreografia? Quem já não sentiu uma forte emoção, ou dançou
de rosto colado, ao ouvir “ I’ll be there” , “Got to be There” ou
“Ben”?
Michael fez parte da minha infância e adolescência, e, por incrível
que pareça, da infância e adolescência dos meus filhos que, até hoje,
ainda ensaiam os passos do meu antigo ídolo-menino.
Não há como esquecer o brilho nos seus olhos ao entoar “Ben”, “Music &
Me”, e a energia liberada nos empolgantes hits “Beat it”, “Bad”,
“Thriller”, ou, ainda, as mensagens subliminares de suas músicas,
indicando os momentos pelos quais passava.
Como toda figura pública, sempre foi cercado de intrigas e
controvérsias. Polêmico. Mas porque nunca deixou de ser aquele menino
que o pai (Joseph) obrigava a ensaiar horas a fio, com os quatro
irmãos que compunham o “Jackson Five”, sem lhe dar a chance de
vivenciar a infância, além de espancá-lo e humilhá-lo, tamanha a
ambição.
Com isso, Michael fez questão de permanecer criança, incorporando a
figura de Peter Pan, a ponto de dar o nome de Terra do Nunca (Neverland)
à sua mansão/sítio, numa tentativa desesperada de resgate da infância
roubada.
Não conseguiu. Guardava tanta mágoa e carência, que a “Neverland” e
todas as crianças de quem tentou se cercar e ajudar mundo afora não
conseguiram aplacar os recalques que a infância perdida e o pai tirano
marcaram a ferro e fogo.
Apesar disso tudo, Michael tinha estrela, emplacou sucesso atrás de
sucesso, entrou várias vezes para o “Livro dos Recordes” (Guiness
Book), tanto pelos milhões de discos vendidos, quanto pela imensa
fortuna amealhada, como por ser o artista que mais contribuiu para
causas sociais do mundo todo!
Ele era único! O maior fenômeno musical do século XX (ao lado dos
Beatles) - mais de setecentos milhões de cópias. Mais de 40
organizações mundiais de ajuda a necessitados. Mais de 10 cirurgias
plásticas. Mais de tudo!
Michael Jackson foi o primeiro representante da “black music” a ter
suas músicas tocadas nas rádios de rock, aparecer na MTV e ser
admirado e respeitado por todos, não só pela bela voz, mas também pelo
incrível talento para a dança, uma presença de palco sem igual e um
carisma teatral invejável. Era um artista completo. Era invejado, alvo
de maledicência e sensacionalismo. Um menino que não sabia lidar com a
maldade dos adultos, e sucumbiu à maldade das crianças das quais vivia
cercado, se recusando a crescer.
Num mundo já tão sem ideologias, restam-nos poucos ídolos. Não importa
se pretos ou brancos, ricos ou pobres. Mais um dia se passou e
continuamos sozinhos, pois agora, como Elis, ele é uma estrela.
(18 de julho/2009)
CooJornal no 641
Lílian Maial
médica, poeta, escritora
RJ
http://www.lilianmaial.com
http://lilianmt.zip.net
lilian.maial@gmail.com
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