Lilian Maial
CANTO DE AMOR N° IX
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Por onde anda aquele por quem percorri mil léguas? Aquele da
palavra amena, do ombro largo e amigo, do colo quente e macio, das
incontáveis cantigas, nas noites sem estrelas e sem luar?
O que
tem o hálito de mato, olhos de horizonte e mãos de cais, de ancorar
carinhos de espuma do mar, de acalentar madornas e acalmar tempestades.
Professor de línguas de anjos, de palavras aladas, escorregando de
nuvens de risos marotos, abanando a solidão com um leque de arco-íris,
afagando as cascatas negras com os dedos celestes, que guardam as
revelações do destino.
O que dedilha meu corpo e lambe minhas
feridas, com a ânsia dos meninos, a loucura dos desesperados, a
sabedoria dos anciãos, que traduz meus sonhos e me reescreve em versos.
Aquele em quem repouso meu cansaço, e me deixo guiar na escuridão,
segura e tranqüila, plenamente viva, para encontrar os segredos e
mistérios da identidade nos braços da verdade.
Eu, tua metade
inteira, a que te sabe de cor, a que te morde com fome, a que te alisa
dengosa, a que te imprime a fotografia do encontro.
Ah! Quão
suave é tua voz de pássaro em revoada! Quão doce o teu sorriso de sol e
de garoa! Quão sincera é a tua mão, que se aperta à minha, eu, tua
miragem, teu deserto e teu sol!
Aquele, cuja boca dita o meu dia,
que me beija as dúvidas e me abraça as escolhas, cujos olhos iluminam
meu caminho, sem interferir na jornada.
Eu, tua amada, a delirar
esperas, a pressupor prazeres, a suportar a dor do silêncio, com a
promessa da chegada, enfeitando as horas com teus humores, preservando a
volúpia do vulcão em explosão, poupando tua pele de almíscar das
labaredas dos meus olhares sedentos.
Abençoado filho de um jardim
de virtudes, que entra por minha janela todas as noites e me observa o
sono, me nutre os devaneios de malícia e sedução, e atiça as fagulhas do
desejo e da entrega. Percorre meu corpo e me conhece os atalhos,
colhe meus frutos e bebe os orvalhos, pingando cheiros vorazes, que me
marcam a ferro e fogo.
Eleita entre tantas, sou a mulher das
tempestades, a diva dos vendavais, a dama dos horizontes, que te ordena
e ordenha, que te cobra e te serve, que te morde e te sopra, que te
expulsa e penetra. A que te elege entre tantos, a que te espera para
sempre, a que te possui e te pare, a que te quer mais e mais a cada dia,
pelo simples prazer de te saber aqui.
(RT, 20 de outubro/2007) CooJornal nº 551
Lilian Maial médica, escritora, poeta
RJ
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