Há mais de quarenta anos no Brasil, um chef francês aqui criou família e fama. No entanto, achou por bem que tem de caprichar no sotaque que, de tão carregado, mais que o natural de sua terra, por vezes soa falso. Morar no Brasil é ótimo, mas não se esforçar por aprender as características do idioma local é um quase desacato a todos nós.

Eis que surge uma situação hilária. O sotaque é derrubado em uma simples passagem de uma propaganda de margarina. Margarrrrina com crrrreme de leite. Prrrrovou e xi... esqueceu o sotaque: aprovou, simplesmente ele aprovou, r brando. Deu cócegas na garganta? Ah, Claude... uma fonoaudióloga resolve.

E já que a abordagem é a fala – o relato nada tem de cômico e sim de falta de leitura e articulação correta –, o que ocorre com nossos apresentadores de jornais, locutores e afins? As damas com vestir impecável, última moda capa de revista, maquiagem perfeita, mas parece que de cultura nem capa apresentam. Vírgula virou né. Infinitivo não mais existe. Omissões e aglutinações, além de um titubear e erros de leitura, pululam como reprodução de gafanhotos e, como nossos ouvidos não têm fabricação de inseticida, temos de suportar as falhas que nos esforçamos para que nossos filhos e alunos não as cometessem. Ah, Maria Júlia... uma fonoaudióloga resolve.

A título de curiosidade, sabiam que o sotaque carioca é o oficial do Brasil? Fiquei sabendo pelo Diário do Rio que a escolha do português falado no Rio de Janeiro como padrão nacional foi feita em dois Congressos Nacionais: o de Língua Cantada, organizado em 1937 por Mário de Andrade e o de Língua Falada no Teatro, realizado em Salvador em 1956.

Mas que fique bem entendido: apenas o sotaque. Os erros ficam mesmo por conta do despreparo dos falantes.