Há momentos em que sentimos que há necessidade de arrumarmos os armários. Não por algum motivo específico, mas apenas porque chegou a hora ou alguém nos pediu algo que temos guardado.

E foi assim que começou a grande arrumação; a montoeira de papéis, já sem razão de ser, sendo jogados fora; os que mais calavam ao coração não queriam se despedir e assinei embaixo: não vão para a lixeira, ficam por aqui mais um pouco. Apesar do trabalho, alguém amoroso se encarregará disso mais tarde.

Ali ao lado na estante, bem visível, livros e livros de piano, uma história vivida por dezenas de anos e que não quer ser esquecida. Muitas partituras isoladas, guardadas em pastas, foram remexidas, acarinhadas e lá colocadas novamente. Todas têm direção certa. Vão para um sobrinho que também tem dom musical – uma característica da família. Não sei o quanto apreciará esse volume todo, pois a maioria é de música clássica, pouco há de popular, que sei ser o seu forte, mas quem sabe um dia se interesse pelos Sonetos de Petrarca? Não me refiro aos poemas de Francesco Petrarca - utilizados como base da composição dessa série musical de Liszt - mas vale, também, explorar esse ângulo, pois todos são de beleza ímpar.

No mexe remexe, tira e põe, no meio a preciosidades que talvez não interessem a ninguém, só à própria pessoa que passou pelas experiências, um achado: papel amarelado, bordas rasgadas, transcrição manual de uma música simples, ainda com letra quase infantil. Onde o título? Onde o autor? O sábio pai, prevendo que os dados poderiam ser irrecuperáveis, em seu fino bom humor já havia brincado de há muito, escrevendo...