Logo que chegamos ao sítio e a vimos, aquela pimpolhinha nos encantou.
Escorregava entre nossos pés. Olhava com uma carinha pedindo colo e não
adiantava colocá-la junto aos irmãos, ela se esgueirava e voltava a se enrolar
em nós. Foi paixão imediata. Completava, naquele dia, 1 mês de vida. Sua
mãe, sobrevivente da enchente em Teresópolis, dava sinais de voltar a ficar
debilitada e estava com pouco leite para alimentar todos os filhotes. Nada mais
justo que aquela doçura viesse conosco. E, assim, Mel chegou à nossa casa.
Na primeira noite não dormiu. Chorou o tempo todo, enroladinha, e nós a niná-la. Imagino a
saudade que sentia da família canina e da Márcia, tão meiga em seu trato. Aos
poucos foi se acostumando e, em duas semanas, já é senhora e rainha.
Rói
sapatos, fios, pés de mesas, enfim, o que encontra pelo caminho. Anda dando
pulinhos e faz nossa alegria, que tanto precisávamos voltar a sorrir. Agora, o que mais
gosta de fazer é dormir, dormir, dormir... Cresce a olhos vistos e estamos de
plantão para descobrir o primeiro latido. Parecemos pais de primeira viagem.
Mel ainda não fez amizade com Sansão e Dalila, nossos outros cães, sendo que
Sansão morre de medo quando ela aparece, e me dá pena ver seu olhar de tristeza
correndo e se escondendo em sua casinha ou debaixo do sofá na garagem; já, a
Dalila, sobe na mesa da varanda e fica por lá, espreitando. Ambos só saem quando
carregamos a pequenininha. Mas é bom eles se acostumarem depressa, pois logo a
tiraremos de dentro de casa, pois é nosso intuito que eles convivam em harmonia,
no quintal.
Logo que Mel chegou, a levamos no Marquinho para recebermos orientação no trato
e tudo mais que se fizesse necessário. Ele lhe deu um biscoitinho de borracha e
ela fica horas entretida, afiando seus dentes. Como tem se coçado muito, mesmo
com o uso do remédio de pulga aconselhado, hoje pedi socorro para que ele lhe
desse banho – mesmo sabendo que esse procedimento no primeiro mês é
inadequado. E ele, compreensivo, veio olhar nossa menina, chegando com inúmeros
apetrechos. Eu estava apreensiva, não nego, pois sei o quanto Mel fica agitada
com movimento, mas no mesmo instante ela já estava em seu colo.
Saí para pegar outra toalha e, ao voltar, não pude deixar de ficar à porta, ouvindo-o
assobiar docemente enquanto lhe dava o banho. Entrei devagarzinho e tive a
sensação de que os dois estavam unidos em algum outro lugar, ela a adorá-lo,
murchinha de molhada, e ele a abraçá-la, firme, sem se incomodar com o que os
rodeava.
Marquinhos, bom amigo, não precisa de flauta. Com seu assobio e canto
tranquilos, é um verdadeiro encantador de animais!