Estou triste. Muito triste!
Em meio a tantas alegrias que me caíram do céu, agora em junho, como a
entrevista à Literacia, por Belvedere Bruno, da qual tantos bons comentários
foram feitos – alguns diretamente dirigidos a mim, outros postados no blog
Literacia -, não me sai do pensamento uma tristeza imensa: recebi o “Jornal do
Enéas”, em que o editor comunica o fim de sua circulação, após dez anos de
ininterruptas edições.
Por que, meu Deus? Por quê? Isso não estava no trato com meu coração! Mesmo se o
Enéas soubesse o tamanho do cantinho que tem em mim e eu houvesse lhe dito e
repetido, mil vezes, o bem que me faz ler seus artigos, a amargura pela perda de
novas edições não seria menor.
O poeta Manoel Monteiro, da Paraíba, escreveu, frente ao
Rosilho - o cavalo mais simpático, manso e servil que teve a sorte de pertencer
ao Enéas:
‘Choro fácil. Poeta chora fácil. Fiz uma ilação do Simpático, do
Enéas, com as injustiças sofridas pelo Castanho do meu cordel e, chorei mais.’
Com a notícia de hoje, confirmei que também choro com facilidade. Na verdade,
estamos todos com esse sentimento de perda. Querendo mais Enéas, mais outros e
outros extraordinários textos, querendo a
certeza do Jornal sendo colocado em nossa caixa e trazido, prazerosamente, para
dentro de casa. Momentos só nossos. Apreciações individuais em que nada precisa
ser dito, só sentido.
Volte, Enéas, por favor, volte! Não nos deixe órfãos da boa literatura!
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* Segue a despedida do Jornal do Enéas, pelo próprio editor.
Nossa Mensagem
Com este número o "Jornal do Enéas" encerra sua trajetória e deixa de circular.
Foi uma decisão espontânea, independente de outros fatores, uma vez que, com
idênticas características, teríamos condições de editá-lo indefinidamente.
Entendemos, porém, que o jornal cumpriu sua missão e mostrou que havendo boa
vontade é possível realizar, mesmo em períodos adversos às coisas da cultura.
Foram dez anos de permanente intercâmbio com centenas de instituições,
colaboradores e leitores. O jornal circulou em todos os Estados sem exceção. e
em alguns outros países, como Portugal, França, Itália, Estados Unidos, Uruguai
etc. Resistimos em alargar a rede internacional porque seria impossível
mantê-la.
Desde o número inicial foi distribuído a instituições culturais, academias,
universidades, escolas importantes, bibliotecas públicas, arquivos e institutos,
hemerotecas, professores, jornalistas, escritores, poetas, artistas plásticos e
fotógrafos espalhados pelo país. Incontáveis têm sido as manifestações recebidas
através dos correios, telefonemas e mensagens eletrônicas. Inúmeras referências
apareceram na média e muitos textos nele publicados mereceram transcrição em
revistas, jornais, capas e orelhas de livros, na internet e até em teses
acadêmicas. Comentários foram feitos em reuniões de entidades culturais e
literárias.
Publicamos autores de todos os recantos, ainda que não fosse possível aproveitar
sequer metade do material recebido, mesmo quando tinha qualidade, por absoluta
falta de espaço. Nunca conseguimos atender a todos os pedidos, sempre superiores
às tiragens. O jornal mereceu três prêmios e um artigo nele publicado também foi
premiado. Muitos o colecionaram, desde o início, e alguns até reproduziram
exemplares para enviar a pessoas de suas relações. Ficou tão conhecido que
muitos o tratam como "o Enéas" ou se referem a matérias aparecidas "no Enéas"
indicando que o nome do editor foi transferido ao jornal. Várias propostas de
ajuda financeira, sob a forma de propaganda ou contribuição, foram apresentadas
mas sempre recusamos em nome da absoluta independência.
Diante disso tudo acreditamos que o jornal conquistou seu lugar na história dos
alternativos culturais brasileiros. Esperamos que outros surjam na sua esteira,
oferecendo espaço aos que produzem e permanecem sufocados, sem encontrar quem os
publique. Registramos aqui um agradecimento muito especial a todos os que
colaboraram, apoiaram e divulgaram, muitos dos quais nos acompanharam com
interesse desde o primeiro número.
O EDITOR