27/01/2007
Ano 10 -
Número 513
ARQUIVO IRENE SERRA
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Irene Serra
Susto no dentista
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Dor de dente não há quem agüente, ainda mais
quando se prolonga por vários dias. Depois de tanto relutar, lá foi a
jovem senhora ao dentista.
De pronto, só de olhar, gostou do profissional, do consultório, da
solícita atendente. Ao saber, então, que esta era uma dentista
recém-formada e que cursava pós-graduação, sendo seu orientador o próprio
dentista, gostou mais ainda. Observava a limpeza de cada canto, os
uniformes impecáveis, o esmero no trato.
Começa a consulta:
- Então, D. Fulana, dói aqui?
- Ah ah ah Ah ah!
Como falar com tanto ferrinho na boca, aquele espelhinho incomodando, o
sugador dependurado prendendo sua língua, além das mãos da atendente e do
próprio dentista?
- E aqui?
- Ah ah Ah Ah!
Será que ele entendia mesmo o que a cliente balbuciava ou só estaria
sendo atencioso enquanto examinava? Podia ser uma forma de atendimento
light para desinibi-la, tirar o estresse da consulta.
Suplício terminado, o dentista senta-se a um computador de ultíssima
geração, na sala contígua. A atendente vem com lencinho refrescante
e passa-o no rosto da cliente, penteia-lhe o cabelo com os dedos,
borrifa-lhe spray perfumado. Com um sorriso perfeito,
indaga-lhe se quer passar batom e se precisa de mais alguma coisa. Não?
Então vamos para a outra sala!
Pois é, bem que podia passar-lhe a roupa, para sair bem bonitinha. Mas
isso certamente estava fora de cogitação, porque não lhe foi oferecido.
E eis que o dentista apresenta a relação do que tem de ser feito. Após o
susto - não tanto pelo trabalho em si, mas pelo preço - marcam a data do
início do tratamento (que coincide com a primeira parcela do pagamento, é
lógico).
Tratamento a meio, cliente feliz com água gelada e cafezinho quente na
chegada e bala de menta na saída, acontece o imprevisto de um provisório
se soltar. Telefona pedindo socorro e a secretária manda-lhe ir direto
para o consultório, sem marcar hora. Assim que chega, a atendente - que
continuava tão solícita quanto da primeira vez - pede-lhe:
- Por favor, D. Fulana. Aguarde um instante que já venho atendê-la. Sou eu
mesma quem vai prender o provisório. É só enquanto acabo de lavar a
perereca da D. Cicrana...
A cliente quase desmaiou: "Botar a mão na minha boca depois de lavar a
perereca? Não vai, não!"
(27 de janeiro/2007)
CooJornal no 513
Irene Vieira Machado Serra
professora,
foniatra, editora da Revista Rio Total
RJ
irene@riototal.com.br
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