01/11/2024 Ano 27, Nº 1.389
ARQUIVO
IRENE SERRA
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Irene Serra
CHEIRO DE CAPIM DO MATO
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Olhei sua foto pela internet e me encantei. Tinha uma aparência tão meiga, tão
desprotegida ao lado daquela árvore meio caída, que tive vontade de
consolá-la.
Tornou-se um hábito observá-la e, a cada dia, mais eu me
entusiasmava ao descobrir novas nuances em sua fisionomia. Sua alma ainda não
se abrira para mim, mas de tanto conversar com suas amigas, querer conhecê-la
foi inevitável. E viajei horas para encontrá-la.
Logo nos vimos frente
a frente. Atrás das grades do portão gasto, estava a sorrir, parecendo que me
reconhecia. Mas não se mexeu. Ansiosa, abri o portão devagarzinho, medindo os
passos até a soleira da porta. Afaguei-a suavemente e a abracei, o que há
tanto desejava fazer. Sei que sentiu meu toque, apesar de nada falar. Estaria
muda de felicidade por se sentir tão querida, tão esperada? Ou estaria
encabulada por ainda não estar bem arrumada e vestida, já que não esperava
visita tão cedo?
Emocionada, chorei de alegria. Era assim mesmo que eu
a idealizara, cheiro de capim do mato e não de areia da praia; silenciosa e
tranquila como quem está em oração; pele clara com algumas imperfeições,
mostrando que o tempo por ali também passara.
Foi então que se mostrou
por inteiro, sabendo que estaríamos juntas a partir daquele momento. Já como
amigas, levou-me ao seu jardim que pedia socorro, tão despojado, árido e seco
se encontrava. Imaginei logo quais flores e plantas lhe traria, assim que
voltasse. Vou buscá-las no sítio: mudas das azaléias, samambaias e orquídeas
que mamãe tão bem cultivava... assim terei um pouquinho da minha família a
perfumar um outro jardim. São vidas que renascem.
As noites serão
românticas ao olharmos o céu estrelado. Sei, também, que me dará todo seu
aconchego, mesmo quando estiver a reclamar dos seus desgastes e fraquezas.
Quanto a mim, prometo cuidar-lhe tão bem, enfeitá-la com tanto carinho, que
nunca mais se sentirá sozinha e nem vai querer que eu me afaste ou viaje para
outras paragens. Inseparáveis!
Ah, minha casinha, como espero sermos
felizes!
(São Carlos, SP, 04/02/2006)
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Irene Vieira Machado Serra
foniatra, editora e diretora da Revista Rio Total
RJ
irene@revistariototal.com.br
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