Irene Serra
VELHAS, MAS SEMPRE NOVAS EMOÇÕES
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Após a emoção de voltar a usar Cashmere Bouquet e dedilhar uma velha
Olivetti acompanhando o pensamento de alguns amigos cronistas desta
semana, resolvi sair e andar sem rumo pelas ruas que percorro desde minha
infância. Imaginei que, sendo à tarde, encontraria tranqüilidade para um
belo passeio. Que engano!
Ipanema fervilhava. Camelôs abarrotavam as calçadas empurrando-nos suas
mercadorias com mais veemência que o habitual. Sorveterias pipocavam de
mães com seus filhos, que não tinham braços suficientes para carregar a
quantidade de sacolas e presentes que traziam consigo. Eram embrulhos tão
meticulosamente bem arrumados, enfeitados de laços e pirulitos, que dava
pena saber que seriam desfeitos.
Só então me dei conta: vem aí o Dia das Crianças!
Mas, por onde elas andam? Aquelas que ouviam histórias contadas pelas tias
e avós. Que pulavam amarelinha e brincavam de cabra-cega. Qual menino faz
hoje seus carrinhos de rolimã e monta exércitos de caixas de fósforo ou
pinta tampinhas para representarem jogadores de futebol?
Parece que não há mais crianças! Quase todas estão em frente à televisão,
assistindo a uma novela seguida da outra, ou grudadas em celulares
marcando encontro em shoppings. Muitas, vestidas de adulto, sob a
conivência dos pais que, não querendo se amofinar, simplificam iludidos:
"Para que preocuparmos, se a geração atual é assim?"
Ah, crianças de agora, vocês não sabem o que estão perdendo! Felizes somos
nós, as velhas crianças de outrora, a quem sempre haverá um Dia da Criança
a ser comemorado.
(12 de outubro/ 2002)
CooJornal no 281
Irene Vieira Machado Serra
professora,
foniatra, psicóloga, editora da Revista Rio Total
RJ
irene@riototal.com.br