01/04/2024 CooJornal nº 1.361
ARQUIVO
IRENE SERRA
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Irene Serra
ETERNA PRESENÇA
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Recordações que saltam em turbilhão! Se de um tempo tão perto, por que parecem
tão distantes? E se tão longe está quem lhe traz a lembrança, por que a cada
dia mais presente se torna?
As longas conversas e confidências, o
abraço amigo. Minha irmã anota: “saudade da mão firme em nosso ombro nos
momentos de dor”. Penso em um irmão a subir o morro pela linha de nível e
ficar, ao seu lado, olhando o sítio, cheirando a já floresta que está ali
encostada. Outro, a falar mansamente seus planos e sonhos, na varanda onde
volta e meia chegava um beija-flor - e ele se levantando rápido para pegar
mais um pouquinho de água com açúcar.
Sua calma! Calma? E as explosões?
Como estas tentaram nos ensinar a ser melhores!
Dia dos Pais era
sagrado. Ou ele fingia que estava dormindo, para o acordarmos, cantando, com
nossos presentes meticulosamente confeccionados (mas que ficavam uma porcaria
de mal feitos) ou se sentava na cadeira de balanço da sala, todo importante, a
nos esperar - e nós brigando, para escolher quem seria o primeiro da fila. Era
um dia de alegria, mas exaustivo ao seu final, com todas as refeições
caprichadíssimas, já que todas as mulheres queriam dar sua participação
culinária.
Cada filho tinha sua hora de mais atenção. Porém, sábado, a
noite era de mãe. E lá ia ela toda linda, de mãos dadas com ele. Não sabíamos
quem era mais feliz! Esta cena me acompanha até hoje, de tal forma, que nem
bem meu marido me dá a mão, minha alma sorri e ponho-me a andar faceira.
Penso, ainda, no “Momento dos Grandes”. Este, mais meu que dos outros -
quando nos detínhamos nos clássicos da música. Você já se sentou no chão e no
escuro, em posição de buda, a ouvir um bom Mendelssohn? Tudo mais escapa, tudo
foge. Menos a voz de um verdadeiro mestre a orientar cada passagem da música,
acompanhando o ritmo – empolgado – contando o que se passava na vida do
compositor no momento em que aquele trecho compunha. "Sinta a força deste
acorde! Olhe esta dissonância como muda todo o conteúdo da obra!"
Mas o
que mudou foi a minha vida, com o mel que recebia naquelas palavras e cuja
verdadeira doçura só muito mais tarde compreendi.
Ah, meu pai, que
saudade! Que saudade de alegrias!
(Revista Rio Total, 10 de agosto/ 2002) CooJornal nº 271
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Irene Vieira Machado Serra
foniatra, editora da Revista Rio Total
RJ
irene@revistariototal.com.br
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