Enéas Athanázio
PABLO PICASSO
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Nestes últimos dias ando
mergulhado na leitura de uma obra monumental. Trata-se de “Picasso – Criador e
Destruidor”, de autoria da escritora grega Arianna Stassinopoulos Huffington,
publicado no Brasil pela Editora Best Seller em tradução de Hildegard Feist
(S. Paulo – 1988). A primeira observação que se impõe é a vastidão da pesquisa
realizada pela autora, consultando uma bibliografia imensa, toda em inglês e
francês, e onde não se encontra um único título brasileiro. Merece atenção
também a preocupação com a minúcia de cada informação e a fonte em que se
baseia. É um livro indispensável para quem pretenda conhecer a vida e a obra
do controvertido pintor espanhol.
Picasso foi um ser complexo e enigmático,
capaz de atos de extrema grandeza e de total mesquinharia. A análise de muitas
de suas atitudes desafia os melhores psicólogos e para encará-los a autora se
valeu das opiniões de Freud, Jung e outras eminências no assunto. Sagrado como
gênio desde muito cedo, ele grangeou renome mundial desde Paris, onde se
fixou, e acumulou extraordinária fortuna com a venda de seus trabalhos,
desenhos e pinturas, que sempre alcançaram elevados preços. Por outro lado,
foi um trabalhador incansável, entregando-se à sua arte por longas horas
diárias, às vezes noite a dentro, sem demonstrar qualquer fadiga. Foi dono de
uma criatividade ilimitada e estava sempre procurando encontrar a verdade
absoluta através de suas pinturas.
Embora feio e desajeitado, baixote e
calvo, dono de um olhar estranho, foi um incorrigível conquistador e fascinava
as mulheres que se derretiam diante dele. Na sua vida houve imenso rol de
mulheres, cada uma delas coincidindo com nova fase de sua obra, e às quais
dedicava amor e grosseria, chegando até à agressão física como tantas vezes se
soube. Convivendo com uma, duas ou três amantes ao mesmo tempo, comprazia-se
em intriga-las, criando um clima tenso e desagradável com o qual parecia se
divertir. Tendo casado com Olga, aristocrata russa, viveu com ela, por algum
tempo, no alto mundo da sociedade francesa e, depois que cansou, tratou de
humilhá-la pelas formas mais torpes que se possa imaginar. Curioso é que,
mesmo espezinhadas, as mulheres a tudo se submetiam, obedecendo como carneiros
aos seus menores desejos. Isso também acontecia com os amigos que recebiam
pontapés e voltavam submissos e felizes. Apollinaire foi vergonhosamente
traído por ele em momento de dificuldade e mesmo assim retornou ao seu
convívio como se nada houvesse acontecido. Atitudes deveras incompreensíveis
para o comum dos mortais. Outro aspecto curioso era seu fascínio pelas
touradas. Comparecia às “corridas de touros”, assistia compenetrado, discutia,
torcia. Gosto difícil de compreender num artista tão sensível e de
sensibilidade refinada. Algo semelhante ao que acontecia com Hemingway e
outros escritores e artistas daquela fase. Viajava grandes distâncias para
comparecer a uma “fiesta”, como também fazia o autor de “O Velho e o Mar.”
Seu temperamento mudava de forma repentina, passando de crises de raiva a
momentos de melancolia. Alimentava desvairado ódio por determinadas pessoas e
pelo mundo em geral. Dava-se ao luxo de recusar trabalhos rendosos alegando
que não trabalhava por encomenda. E seus quadros se vendiam por preços
absurdos. Creio que muitos compradores nem de longe imaginavam o que
significavam mas desejavam possuir uma obra de Picasso e para tanto
desembolsavam elevadas quantias. Suas obras cubistas, quando surgiram,
causaram impacto e chocaram as pessoas, mas logo foram absorvidas porque
levavam sua assinatura. Sua contribuição ao surrealismo de Bresson foi
decisiva. Ele próprio desenhou sua alma como algo horrendo e repulsivo,
refletindo o terror que o consumia.
Eis aí alguns aspectos colhidos aqui e
ali neste livro inesgotável e fascinante. A ele voltarei em outra
oportunidade.
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e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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