Enéas Athanázio
VARGAS VILA (2)
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O escritor colombiano José Maria de la Concepción Apolinar Vargas Vila Bonilla adotou o nome
profissional e literário de Vargas Vila com o qual se tornou mundialmente
conhecido. É curioso que Vila fosse gravado com um só l, contrariando a
norma da língua.
Os biógrafos não se referem à sua vida pessoal e
familiar. Parece que não se casou e nem constituiu família, não deixando
descendência. Ele se refere à mãe e às irmãs com grande ternura. Tudo indica
que nutriu fervorosa paixão por Eleonora Dalzio sobre quem escreveu estas
palavras: “Há mulheres cuja aparição provoca o desejo como uma vertigem;
Eleonora Dalzio era uma delas; os seus olhos, trevas impenetráveis, atraíam
pelo estranho mistério que os sombreava, pela bruma de sonhos mórbidos que
tal oceano de voluptuosidade, deles se elevava, enchendo-os de evocações
perturbadoras; dir-se-ia que os seus olhares felinos, cambiantes e
complexos, flechavam a carne com os seus misteriosos eflúvios de volúpias
audazes e violentas, e que o silêncio imperioso de seus lábios guardava qual
esfinge a entrada ao mundo irrevelado do inacessível jardim de rosas de
Eros;”
Esse hino de amor prossegue e parece que foi correspondido mas não
se sabe se chegou à realização. Ignoro se Eleonora Dalzio foi uma criação
ficcional ou se de fato existiu. Vargas Vila foi ateu confesso,
anarquista, revolucionário e autor de obras românticas e sentimentais. Eram
posições que não se enquadravam, parecendo incompatíveis entre si. Mas nunca
mudou de posição; ao contrário, fortaleceu seu pensamento. Alguns críticos o
consideravam um caso anômalo na literatura.
Ele criou um estilo
personalíssimo e inconfundível. Eliminou as maiúsculas no início das frases
e o ponto no final dos parágrafos, substituindo-o por ponto-e-vírgula.
Escrevia parágrafos curtos, com poucas linhas, o que dá à leitura uma
cadência poética. Eis alguns exemplos:
“Era a hora do Tramonto; sobre
os cumes longínquos a grande luz tardia erguia miragens de ouro, na
pompa triste de uma perspectiva desmesurada... toda uma floração áurea
e rosa, de flores de quimera, se abria sobre o perfil lutuoso dos montes;
sobre as cristas longínquas do Soratte, nos cumes das Sabinas, aquela luz
difusa e purpúrea fazia rebentar rosas mágicas;” (Abertura do romance
“Rosas da Tarde”)
Segundo Érico Veríssimo, “Vargas Vila expôs seu
pessimismo, revolta e niilismo em estilo original, fulgurante e
declamatório. Foi um jornalista panfletário e veemente” (Enciclopédia
Brasileira Globo, P. Alegre, 1971, Vol. 12).
Em nota constante em um de
seus livros fez questão de sublinhar que não foi pela Colômbia que exerceu
funções diplomáticas. Tudo indica que não morria de amores pela pátria.
Em 1924, passando por Santos, Vargas Vila permaneceu alguns dias, festejado
pelos intelectuais da cidade, dentre eles o poeta Martins Fontes. A visita
repercutiu em todo o país onde era muito lido e admirado.
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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