Enéas Athanázio
O ARTICULISMO CULTURAL DE M. PAULO NUNES
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Tanto a crônica como o artigo, em regra, têm como
suporte a página do jornal ou da revista. Podem, mais tarde, ocupar espaços
de livros, o que é mais ou menos comum, embora não sejam eles seu
destinatário original. E, no entanto, a crônica é um gênero literário, ao
passo que o artigo não. Com efeito, dentre os gêneros literários em prosa os
teóricos excluem o artigo. Hênio Tavares, por exemplo, para citar um autor
didático, arrola o romance, a novela, o conto, a crônica, a anedota, a
fábula, o apólogo e a parábola.
Quanto ao artigo, costuma ser definido
como gênero jornalístico, a exemplo do editorial, da reportagem, da
entrevista etc. Os manuais de redação de grandes órgãos de imprensa costumam
defini-lo, com ligeiras variações, como “gênero jornalístico que traz
interpretação ou opinião do autor, sempre assinado e que pode ser escrito em
primeira pessoa.”
Não significa isso que a feitura do artigo seja fácil.
Também ele tem suas regras e medidas. Costuma ser o instrumento de que
jornalistas e escritores se valem para transmitir opiniões, ideias,
informações e ensinamentos, inclusive sobre temas e obras de literatura,
aonde vão pingando noções que contribuem para a cultura em geral e a
literária, em particular. Nesta última área, não são muitos os articulistas
que escrevem e publicam com constância em todo o país. É por isso que merece
atenção o trabalho que realizou nesse campo o professor e acadêmico
piauiense M. Paulo Nunes. Desde que o conheci e acompanhei seu trabalho – e
lá vão muitos anos – ele apareceu na imprensa teresinense, de Brasília e de
outras localidades com uma frequência admirável, mantendo sempre seus textos
em alto nível, fosse criticando livros ou enveredando pelos caminhos da
educação, tema em que foi “expert”, ou da cultura em sentido lato. É um
articulismo cultural vasto e variado, cujos textos selecionados recheiam
três volumes sob o título geral de “Modernismo & Vanguarda.”.
Sempre em
linguagem rica e elegante, M. Paulo Nunes revelou em cada novo texto sua
erudição admirável, fruto de incansáveis leituras e meditações, a
sensibilidade na abordagem dos temas e a penetração na análise de obras
alheias. Conhecedor da história e da evolução da literatura, dominou como
poucos a teoria do romance, sua técnica, escolas e tendências, e revelou uma
visão abrangente, sempre atualizada, do que se produziu no país e no
exterior. Como costumava dizer, foi um escritor da província que se recusou
a ser provinciano. Também não perdeu de vista a produção de seus
conterrâneos piauienses. Quase tudo que lá foi produzido passou pelo seu
crivo, numa espécie de batizado sem o qual o novo ente literário não se
integra ao conjunto. E por outro lado, mesmo sem qualquer pretensão
magisterial, seus artigos guardam um quê didático, revelando, no fundo, o
professor que foi a vida inteira.Seus artigos estão sempre ensinando,
orientando e opinando para que o leitor possa se situar e tomar o caminho
correto. M. Paulo Nunes, sem dúvida, foi um dos grandes articulistas
culturais de longo período e seus textos engrandeceram a imprensa do Piauí e
do Brasil. Sua ausência deixa um vazio no meio literário e no coração de
seus amigos.
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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