Enéas Athanázio
UMA PUBLICAÇÃO MODELAR |
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Tenho em mãos o número XXIII da
Revista da Academia Brasileira de Filologia. Com sede no Rio de Janeiro, a
entidade tem como presidente Amós Coelho da Silva, como vice-presidente
Deonísio da Silva e como diretor da publicação Antônio Martins de Araújo.
Todos seus integrantes são linguistas de destaque, como tais reconhecidos
pela melhor crítica especializada. Os temas veiculados na revista são de
elevado rigor técnico e científico.
Este número se abre com um amplo
e profundo ensaio de autoria do Prof. Adovaldo Fernandes Sampaio, autor de
obras monumentais nas áreas da linguística, da escrita e sua história.
Aborda dicionários curiosos publicados em Goiás e depois se debruça sobre a
volumosa e rica obra de Willim Agel de Mello, diplomata, escritor e
linguista, autor de um conjunto de dicionários sem similar em todo o mundo.
Graças ao seu imenso trabalho, diz o ensaísta, William Agel de Mello “tornou
agora as línguas românicas ainda mais próximas e tangíveis e os povos que as
falam ainda mais irmãos e amigos.”
Deonísio da Silva contribui com
dois interessantes artigos, um sobre Cruz e Sousa e outro sobre John dos
Passos. Aplaude a atitude do escritor norte-americano ao não se submeter às
exigências sectárias do chamado realismo socialista e se manter
independente, atitude que também inspirou seus seguidores brasileiros. Dos
Passos participou da Guerra Civil Espanhola, como outros de seus
compatriotas, operando como motorista de ambulâncias no fronte de combate.
Hemingway dá a entender que a presença dele na Espanha foi muito curta e que
estava mais interessado na tradução de suas obras para o espanhol que em
assuntos bélicos. A guinada do escritor para a direita, depois de ter
apoiado os republicanos, gerou a acusação de traidor, aliando-se ao
abominável franquismo que toda a intelectualidade combatia e contribuindo
para a sua vitória. O tradutor da obra dele para o espanhol foi assassinado
e, ao que parece, em circunstâncias nunca bem esclarecidas. O ensaísta
fornece alguns dados pouco conhecidos e curiosos sobre Dos Passos.
Já
Francisco da Cunha e Silva Filho presta uma homenagem ao mestre Júlio de
Matos Ibiapina. Faz um relato sobre a vida, a obra e as atividades desse
professor que foi também jornalista, deputado, major do exército e grande
viajante. Figura admirável de estudioso, poliglota e cronista aguerrido. É
um ensaio ressuscitador e justiceiro.
Outros trabalhos de valor
enriquecem a revista. Afrânio da Silva Garcia e Ida Alves abordam diferentes
facetas do Modernismo em longos e substanciosos ensaios. Autores de
reconhecida competência publicam ensaios abordando variados temas da
linguística e da literatura. O volume se fecha com entrevista, resenhas,
memória e noticiário. Trata-se, pois, de uma publicação modelar, a única no
gênero que conheço, merecedora da melhor atenção dos amigos do saber.
Releia a
crônica
UMA FIGURA LIGADA À NOSSA HISTÓRIA: MIGUEL
CALMON
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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