Enéas Athanázio
OBRA CONSAGRADA |
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Professor, conferencista, ensaísta e, acima de tudo, poeta, Gilberto
Mendonça Teles é autor de uma obra, em prosa e poesia, que vem merecendo
decisiva aprovação da mais exigente crítica, nacional e estrangeira, e
pelos seus incontáveis leitores. Ele é colocado na primeira linha dos
grandes poetas da atual literatura brasileira, com reflexos no exterior.
Em reconhecimento ao grande poeta goiano e como merecida homenagem, a
Editora Kelps (Goiânia – 2020) publicou em esmerada edição de luxo, em
elegante caixa, a obra de Gilberto sob o título geral de “As interfaces da
poesia.” Nela aparece a Trilogia que contém o essencial de sua poesia, em
três volumes, sob os títulos de “Sintaxe invisível” (Vol. I), “A raiz da
fala” (Vol. II) e “Arte de armar” (Vol. III), o que já indica uma obra
sofisticada e de elevado nível filosófico e poético. Como exemplo do
conteúdo, o primeiro volume se divide em três partes: “Sintaxe invisível”,
“Limites do acaso” e “Sonetos do azul sem tempo”, antecedidas de longo
ensaio introdutório. Para o leitor curioso, colho aqui trecho de um poema:
“Eu caminho seguro entre palavras e páginas desertas. Nas retinas:
sonho de coisas claras e a lição de outras coisas que invento para o
só testemunho de minha construção imaginária de pedra sobre
pedras e cimento e silêncio.”
O segundo volume se divide em duas partes (“A duração do nome” e “No
vértice da fala”) e o terceiro em três (“Falavra”, “Hora aberta” e
“Pública forma.”) São blocos compactos de poesia esculpida com inspiração
e técnica elevada, abordando grande variedade de temas. Como se observa,
muitos títulos de poemas aguçam a curiosidade do leitor. O poeta é de uma
criatividade sem limites. Transcrevo aqui um trecho de “Falavra”:
“Ainda sei da fala e sei da lavra e sei das pedras nas palavras
áspedras. E sei que o leito da linguagem leixa pedregulhos na letra.
É como o logro da poeira na louça ou como o lixo nos baldios do
livro. Ainda sei da língua e sei da linha do luxo e suas luvas,
amaciando os calos e os dedais. E sei da fala e do ato de
lavrá-la na falavra.”
Como escreveu a crítica Rosemary Ferreira da Silva, “O poeta, na sua
Trilogia, revela a argúcia frente aos procedimentos da arte poética. Passo
a passo, ele procura aprimorar seu ato criador, “ligado à tradição
(conhecimento) e fazendo dela sua matéria da modernidade, atualizadora.”
Ele faz uma defesa da poesia como conhecimento da arte poética, adentra
nas franjas do texto literário, sobretudo a poesia, no percurso ordenado
pelos “sortilégios da criação.” O resultado é uma poesia
sofisticada e exigente. Não pode ser lida às carreiras. Há de ser lida com
calma, analisando os vocábulos empregados com absoluto critério (cada um
com seu peso) e pensando para que se descortine diante do leitor o
universo infinito da poesia.
Complementando o box,
a editora acrescentou robusto volume contendo ensaios sobre poesia e
crítica elaborados pelo autor. Nele aparecem substanciosos trabalhos que
contribuem para a perfeita interpretação da Trilogia, destacando-se nesse
sentido “O processo criativo na Trilogia.” Também são importantes os
ensaios “Poesia da arte do amor” e “O exercício da crítica da poesia”. O
volume se fecha com a fortuna crítica do autor, revelando a repercussão de
sua obra. Em volume à parte, Appris Editora (Curitiba – 2020)
publicou uma seleção de ensaios sobre a literatura brasileira de autoria
de Gilberto. Nele aparecem ensaios, conferências, palestras e outras
intervenções no mais variados locais do país ou publicados em veículos
dedicados às letras, inclusive do exterior. Merece referência especial o
ensaio “O r(h)umor inaudível das palavras” pelas implicações que contém. A
publicação do livro não poderia ser mais oportuna. O lançamento da
obra de Gilberto Mendonça Teles é um acontecimento
editorial e literário a ser comemorado. Espero que mereça o acolhimento do
público leitor, uma vez que na voz da melhor crítica já é uma obra
consagrada.
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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