Francisco de Vasconcellos é um pesquisador de primeira linha nas áreas da
história e do folclore no atual cenário cultural brasileiro. Sua obra é
imensa, abordando sempre temas curiosos e instigantes, muitos deles
desconhecidos ou pouco versados. Sua contribuição é das mais importantes e
constantes porque está sempre produzindo e publicando novas obras. Tem uma
impressionante visão panorâmica dos temas a que se dedica, dando a
impressão de ter na cabeça o mapa histórico e folclórico nacional com
nomes, datas, detalhes e tudo mais. Move-se nesse cipoal intrincado com a
segurança de quem sabe aonde vai.
Em seu livro mais recente, Francisco de Vasconcellos retira do
ostracismo uma figura das mais curiosas do meio jurídico e político do
país. Trata-se do Dr. Manoel Edwiges de Queiroz Vieira, advogado militante
no Rio de Janeiro e proprietário de uma fazenda na Serra de Petrópolis com
o estranho nome de Engenhoca, onde ele se refugiou em período de crise. O
ensaísta rebusca tudo a respeito do personagem, desde suas origens,
descendência, familiares e tudo mais, com as respectivas datas e
pormenores de interesse. Também se debruça sobre a história da própria
fazenda, cujo nome, a meu ver não encontra explicação. Na boca do povo o
proprietário se transformou no Dr. Duvige.
Mesmo residindo em
Petrópolis, ele descia para o Rio duas vezes por semana para cuidar de sua
banca. Metódico e dedicado. Envolveu-se na política e foi Vereador em
Petrópolis mais de uma vez. No plano nacional, apoiou o Marechal Hermes e
foi por ele nomeado Chefe de Polícia do Distrito Federal e depois Ministro
da Agricultura. Como Chefe de Polícia foi implacável no combate à
vadiagem, à prostituição, às drogas, à jogatina e à corrupção,
conquistando incontáveis inimigos que mais tarde moveriam contra ele
tremenda campanha através da imprensa. Não perdoava a menor irregularidade
com o dinheiro público, sendo apontado como repressor mas de inflexível
conduta ética. Deixando esse cargo, foi guindado ao Ministério da
Agricultura, quando suportou uma campanha odiosa que tentava por todos os
meios intrigá-lo com o Presidente. Nem um e nem o outro se curvaram e ele
permaneceu no cargo até o final do mandato presidencial.
Quanto à
Engenhoca, tratava-se de uma propriedade quase improdutiva, mantida mais
como refúgio do proprietário e sua esposa, D. Sinhazinha. Coberta por
densas matas que ele defendia com paixão, produzia apenas o indispensável
ao consumo doméstico, inclusive pimenta que ele usava nas refeições e até
carregava no bolso do colete. Existia na fazenda um monjolo para pilar
milho, mas, ao que parece, sem conexão com o nome da propriedade. Houve
pelo menos três tentativas de transformar a Engenhoca em prado para
corridas de cavalos, mas as iniciativas não vingaram. Parece que a
Engenhoca se mantinha recatada, longe do grande público. É interessante
notar que Eduwiges era antipatizado na região, fosse pela sua ação na
Chefia da Polícia, fosse pela defesa intransigente da Engenhoca, mas o
fato é que se elegia Vereador e tinha influência na política estadual.
Homem de forte personalidade, não transigia com os seus princípios.
O novo livro de Francisco de Vasconcellos pode ser lido como um
romance que se envolve com a política de antanho que, a rigor, é a mesma
de hoje. Vale a pena ser lido para conhecer um pouco mais de Brasil.
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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