Carlos Nejar é considerado o maior poeta da literatura brasileira
contemporânea. Foi apontado como um dos 37 escritores referenciais do Século
XX. Gaúcho de Porto Alegre, fez a carreira do Ministério Público,
aposentando-se como Procurador de Justiça. Transferiu-se para o Espírito
Santo, fixando-se em Guarapari e depois no Rio de Janeiro, onde reside na
sua “Casa do Vento”. É membro da Academia Brasileira de Letras (Cadeira
número 4), da Academia Brasileira de Filosofia e da Academia
Espírito-Santense de Letras. É poeta, ficcionista e historiador da
literatura brasileira. Tem numerosos livros publicados, inclusive em
Portugal, e recebeu os mais importantes prêmios nacionais. Sua obra tem sido
traduzida para vários idiomas. Estudou nas principais universidades do
Brasil e do exterior. É considerado um inventor incansável e transita por
todos os gêneros: dramaturgia, poesia, romance, conto, ensaio,
infanto-juvenil e história da literatura.
Dentre suas obras, avulta
“A Idade da Aurora: a Fundação do Brasil”, rapsódia épica do nosso país.
Segundo Oscar Gama Filho, “Em “A Idade da Aurora”, Nejar sentou nos ombros
de James Joyce e de Guimarães Rosa. Assim ombreado, equiparou-se a eles.
Este é o seu melhor livro, uma obra-prima que lhe garante vaga na
imortalidade ao lado de ambos, com quem passa a compor a santíssima trindade
do romance.”
O crítico equipara Nejar a Joyce, um dos maiores
escritores de todo o mundo, talvez ao lado de Proust, e a Guimarães Rosa, o
ponto alto das letras nacionais. O poema mencionado é a história poética do
Brasil, uma obra sofisticada e reveladora de ilimitada criatividade.
Outros críticos de renome se manifestaram de maneira positiva sobre o livro,
entre eles Gilberto Mendonça Teles, Virgilio López Lemus, César Leal, Abgar
Renault, José Saramago, José Jorge Letria, Fábio Lucas, Gustav Siebenmann,
Fernando Py, Lênia Márcia Moncelli, Donaldo Schuler, Sérgio Ribeiro Rosa e
Luciana Stegagno Picchio.
Colhendo ao acaso, anotei alguns
versos que ficaram bailando na minha memória:
Na aleluia da luz mais
exata
Ir vivendo é ir soprando as coisas
Até que um Brasil sobre o
chão despertasse
Liberto é o que na alma varia
Deus era a sua maior
intimidade
Mesmo sem a usança da língua, nesta estranheza de
onde
manam os alfabetos
Inventar não; é o só vivendo
Ir além é o que
importa
Amor é quando a graça sobe os píncaros
E nem percebe mais o
que fazer com os vasos do
coração regados
Dos olhos ao coração é um
til, um trim
O amor é o arco-íris, o arco-velo do vento
Amor se é
verde, dói
Viver é ir caindo no vivido
Mais bela é a espada, quando
guerreada
E a infância não sabe nada, nada de si mesma
* * *
Outro
livro de grande destaque é “A Árvore de Deus”, publicado em Portugal. Aqui o
poeta se revela o místico que é, sempre com os olhos e o coração voltados
para Deus, presente em todo o longo poema.
a ponto de não carecer de nome
o amor. Já sai de mim
como a borboleta
do casulo saiu no voo.”
“Deixei de morrer
assim que vi Deus.”
“Eu me movo em Deus.”
Misticismo que se revelará em outros tantos
poemas.
* * *
Ainda no campo da poesia, merece especial referência
o volume “Os dias pelos dias”, reunindo três livros: “Canga”, “O poço do
calabouço” e “Árvore do mundo”, compondo um conjunto impressionante de mais
de trezentas páginas.
O primeiro deles contém a saga de Jesualdo Monte,
trabalhador geral nas cangalhas do espanto porque é um burro (de carga?),
carregando os ossos porque em volta dele o mundo apertou as suas cinchas.
Porque Jesualdo Monte galopa, galopa, e não se esconde, está vivo e morto.
“Canga” enternece, revolta, choca. É um brado em defesa do social.
O
segundo livro inicia criando um clima sufocante, depois infunde o medo e
invoca a liberdade, porque “sem ti nada mais sei.” Ela traz o alívio. O
poeta conduz o leitor para onde quer, manobrando seus sentimentos como um
guia.
No terceiro livro, por fim, a variedade de temas que atraem e
encantam.
Como escreveu o crítico Adriano Espínola, a trilogia “é um dos
mais altos momentos da lírica participativa da língua portuguesa dos últimos
tempos. Participativa não só do drama político, mas também da vida
cotidiana, da “dor geral” e particular do ser humano na sua “ciência maior
de estar vivo.”
“Os dias pelos dias” é um marco da poética brasileira.
Tristão de Athayde, Antônio Houaiss e Eduardo Portella, três pesos-pesados
da crítica nacional aplaudiram Nejar.
* * *
Ingressando pelo campo
da prosa-poética, Nejar publicou “Carta aos loucos” e “O evangelho segundo o
vento.”
Creio que o primeiro é um de seus livros mais conhecidos. Nele,
o autor “aponta o rio da memória em que o realismo mágico necessita
desembocar. Não basta mais expor a realidade pelos seus excessos, mostrar o
impossível, o fantástico. “ Como disse Paulo Coelho, é a sábia e inovadora
loucura de Nejar.
O segundo começa com uma proposição e uma indagação:
“Ninguém simula o mundo, se ele é sempre o mesmo. Ninguém simula nada; as
coisas passam de uma aparência a outra. Tal um rio. E como conseguiremos
segurar o que sempre nos foge?” Mergulhando nessas páginas o leitor
encontrará a resposta ou, pelo menos, a sua resposta.
Esta é uma breve
notícia sobre parte da obra de nosso poeta maior, sem pretensão analítica ou
interpretativa. É um convite para a leitura da produção de um poeta
personalíssimo e incansável criador de cosmogonias, como o definiu um
crítico.
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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