Enéas Athanázio
HOLOCAUSTO NUNCA MAIS |
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O edifício do Congresso Nacional, em Brasília, amanheceu com as palavras
“Holocausto nunca mais” em letras fosforescentes. Uma
iniciativa muito oportuna no momento em que o antissemitismo cresce em todo
o mundo e no Brasil. O Holocausto é uma das maiores feridas da história
mundial, nunca cicatrizada, e por isso precisa ser lembrado sempre para que
jamais se repita.
Existe imensa bibliografia sobre o assunto e que
não cessa de crescer, o que é muito positivo. O conhecimento é a melhor arma
contra os preconceitos. Entre os livros mais recentes sobre o Holocausto
está “O garoto que seguiu o pai para Auschwitz”, de autoria do escritor e
jornalista Jeremy Bronfield que, depois de se tornar um best-seller
mundial, foi publicado no Brasil pela Editora Objetiva (Rio – 2019). O livro
reconstitui uma história comovente unindo pai e filho na terrível luta
diária pela sobrevivência e que merece mais que um comentário. Aqui, no
entanto, desejo me ater apenas aos primórdios do relato, no período que
antecedeu à prisão de ambos pelas forças nazistas de ocupação na Áustria. Em
outra ocasião voltarei ao livro.
Gustav Kleinmann era um habilidoso
artesão que vivia em Viena em companhia da esposa, Tini, e dos filhos,
Fritz, Kurt, Edith e Herta. Embora fosse judeu, não era ortodoxo, e se
considerava um perfeito austríaco. Havia lutado pela pátria na I Guerra
Mundial como soldado, sofreu graves ferimentos e foi condecorado por
bravura. Embora levassem vida modesta, nada perturbava a família. Mantinha
boas relações com a vizinhança e o viver era tranquilo.
A ascensão de
Hitler na Alemanha projeta uma sombra sobre a Áustria. Ele jamais escondeu o
desejo de anexar o país onde havia nascido e seus adeptos iniciam uma
intensa pregação nesse sentido. As opiniões se dividem e manifestações pró e
contra se repetem, algumas com violência. O chanceler austríaco,
Schuschingg, designa um plebiscito para decidir a questão. Irado, Hitler
esbraveja no seu estilo tonitruante e exige o cancelamento da votação,
prevendo uma derrota, mas o chanceler não se curva e acaba afastado do
cargo. O plebiscito é realizado com evidente manipulação dos resultados e os
favoráveis à anexação vencem com larga margem. Hitler anexa a Áustria à
Alemanha, dando início à escalada de ocupações que levariam à II Guerra
Mundial. Era o Anschluss e o país estava anexado, sem soberania e sem
governo próprio. Um títere, dessas figuras abjetas que sempre surgem nessas
ocasiões, assume um governo de fachada. Hitler em pessoa visita a Áustria
para comemorar e desfila sob aplausos apoteóticos. O povo saudava seu futuro
carrasco, o mesmo que o faria derramar lágrimas de sangue.
Um clima
de ódio e intolerância toma conta do país. O fanatismo nazista explode em
toda parte e a violência aterroriza as pessoas. Conhecidos de ontem que
saudavam os Kleinmann com um sorriso nos lábios agora se revelavam inimigos
mortais. Uma das filhas é injuriada e humilhada na rua por um colega de
escola. Os filhos homens são ofendidos e forçados a quebrar esquinas para se
livrarem dos ataques. Passeatas nazistas acontecem a todo momento com os
manifestantes gritando insultos contra os judeus e os católicos. A situação
se torna insuportável e o clima irrespirável. Gustav é forçado a encerrar as
atividades e sua oficina é fechada. Os filhos não podem mais frequentar a
escola. As restrições contra os judeus são cada vez mais severas. Até que a
família é denunciada pelos vizinhos, antes amigos, e Gustav e Fritz são
presos, conduzidos a uma delegacia e depois para Buchenwald, o temido campo
de concentração. Aí tem início o calvário a que pai e filho serão submetidos
e que o autor do livro relata em pormenores e com base em fundados elementos
de prova. Como ele diz, os fatos são tão terríveis que preferiria que não
fossem verdadeiros.
Os acontecimentos da Áustria são um exemplo aos
que semeiam o ódio e a intolerância e pregam a ditadura. Em regime
democrático o Holocausto não teria acontecido. O mundo vive tempos
autoritários e discriminatórios capitaneado por Trump nos Estados Unidos e
Macron na França, imitados por outros esbirros de menor porte. Mas é preciso
resistir porque só na democracia o ser humano pode viver com dignidade.
Ditadura só serve para quem tem alma de escravo.
E agora, Moro? O
senhor a quem você tanto serviu o descartou como algo desnecessário e o
classificou de mentiroso e chantagista. A mestra vida me ensinou que sempre
que Promotores e Magistrados se envolvem com políticos acabam mal.
Como diria Camões, o Brasil vive um período de apagada e vil tristeza.
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e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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