Enéas Athanázio
O MISTÉRIO DA ILHA DO SOLDADO |
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Rochosa, áspera, quase inabitável, a Ilha do Soldado, na costa britânica, é
um local desolado, esbatido pelos ventos marítimos e de difícil acesso. Só
com tempo bom e mar calmo pode alguma barco atracar com segurança. Ali, um
milionário norte-americano excêntrico construiu uma casa ampla, moderna e
luxuosa, no ponto mais elevado, e que pouco se avista do continente. A
propriedade, mais tarde, é vendida a um certo Mr. Owen, figura misteriosa e
que ninguém encontrou, fosse na ilha ou em terra firme. É partindo desses
dados que Agatha Christie (1890/1976), escritora inglesa conhecida como a
rainha do crime, engendra a história de seu mais famoso livro: “E não sobrou
nenhum” (Globo Livros – Rio de Janeiro – 2018). Como é sabido, ela foi a
mais famosa autora de obras policiais em todo o mundo, a mais lida e vendida
no gênero e traduzida para inúmeros idiomas. Publicou oitenta livros
policiais, várias coletâneas de contos e doze peças teatrais.
Mr.
Owen, mesmo sem se mostrar, consegue reunir através de correspondência, dez
pessoas que nada têm entre si para alguns dias de descanso no casarão da
Ilha do Soldado. Elas vêm de vários pontos do país e são conduzidas por um
barqueiro para isso contratado. Instalam-se nos luxuosos quartos e começam a
usufruir das mordomias de umas férias que tinham tudo para ser maravilhosas.
Mas o inesperado acontece.
Quando todos se encontram na suntuosa sala
de estar, uma voz misteriosa surge nítida e clara. Declinando o nome de cada
um, vai acusando os visitantes de certos atos que, embora criminosos,
escaparam da justiça a permaneceram impunes. O choque é violento porque
todos julgavam que o esquecimento havia recaído sobre os fatos e ninguém
mais se lembrava deles. Começam, a seguir, as mais misteriosas e
inexplicáveis mortes. Varejam a casa e a ilha e constatam que além dos
visitantes não havia viva alma no local. O mau tempo e o mar agitado impedem
a aproximação de qualquer embarcação. Não obstante, apesar dos extremos
cuidados adotados por todos, as mortes continuam. A conclusão inevitável é a
de que o criminoso é um deles e todos passam a vigiar uns aos outros com
total desconfiança. E o mais curioso é que a cada morte desaparece um dos
soldadinhos de porcelana que jaziam sobre uma mesa. Além disso, as mortes
coincidem com as palavras de um poema infantil exposto em todos os quartos:
“Dez soldadinhos saem para jantar/ a fome os move/ um engasgou, e então
sobraram nove...”
Num clima tenso, cria-se um ambiente lúgubre, cheio
de medo e expectativa. Quem seria o próximo? As horas escorrem vagarosas, a
tempestade ruge lá fora, o mar encapelado martela as rochas da ilha e novas
mortes acontecem até que não sobra nenhum. Cada um deles, por sua vez, morre
nas mais estranhas circunstâncias, incluindo-se dois suicídios que não me
parecem muito convincentes. Mas ao longo de 400 páginas a autora mantém um
suspense que quase provoca falta de ar no leitor. As investigações mais
minuciosas nada conseguem esclarecer. Só uma carta subscrita pelo juiz
Laurence Wargrave, um dos visitantes mortos, enviada à Scotland Yard pelo
mestre da traineira Emma Jane põe fim ao mistério e explica tudo. Mas isso
não posso expor porque ninguém teria interesse em ler o livro e isso seria
lamentável.
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e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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