Enéas Athanázio
A HISTÓRIA DA ESCRITA
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Adovaldo Fernandes Sampaio é um dos maiores linguistas do país. Tem
produzido obras fundamentais sobre os temas de sua especialidade e que são
autênticos marcos no campo da linguística. Cabe mencionar, dentre elas,
“Línguas e dialetos românicos e germânicos”, livro enciclopédico, revelador
de impressionante erudição, e que comentei nesta coluna (Editora Kelps –
Goiânia – 2010). No ano anterior, pela Ateliê Editorial (S. Paulo), havia
publicado “Letras e memória – Uma breve história da escrita”, livro que
encanta pela beleza e fascina pelo conteúdo. Em tamanho grande e fartamente
ilustrado, é o resultado de anos de pesquisas, trabalho e dedicação de quem
não se contenta com o comum, o ordinário, o convencional.
Não
satisfeito com as fontes disponíveis, o ensaísta estendeu uma rede de
contatos com entidades e especialistas de diferentes áreas do conhecimento
em todo o mundo. Com paciência e organização, fez contatos que lhe trouxeram
informações valiosas que enriqueceram seu trabalho e lhe deram ainda maior
base científica. Consultando a relação desses contatos surgem pessoas e
instituições da Mauritânia, Croácia, Rússia, Cazaquistão, Alemanha, França,
Inglaterra, Índia, Etiópia, Austrália, Geórgia, Turquia e muitas outras,
obtendo de cada uma informações, documentos, fotografias e reproduções que
lhe forneceram material para enriquecer seu notável ensaio. O resultado foi
um livro que considero único.
Mas na busca da história da escrita,
objeto maior do livro, o autor afundou no passado da humanidade na caça dos
mais rudimentares resquícios da escrita até seu pleno desenvolvimento
através de longo e tortuoso avanço. Começa informando que o orgulhoso
homo sapiens passou nada menos que 150.000 anos em estado
de selvageria e de barbárie. Não tinha a menor ideia do que fosse escrever;
era ágrafo. Entre 45.000 e 35.000 anos, movido pela necessidade de
comunicação, começou a gravar em paredões sinais e figuras que podem ser
considerados os embriões da escrita. Esse costume evoluiu no correr dos
tempos e surge na Mesopotâmia a escrita cuneiforme e, mais tarde, no Egito,
aparecem os hieróglifos gravados em papiros. São invenções revolucionárias,
permitindo o aparecimento da literatura sobre variados assuntos e a formação
de bibliotecas. Os fenícios contribuem com seu alfabeto e de avanço em
avanço o homem chega ao alfabeto latino que muito tem servido às línguas que
o utilizam. A criatividade sem limites conduz por caminhos jamais imaginados
até a escrita real e a virtual. Línguas surgem e prosperam; outras morrem ou
são abandonadas. E assim, no mundo de hoje, a escrita está em toda parte e
as sociedades se organizam em torno dela.
Na sequência, o livro exibe
incontáveis reproduções de todos os tipos de escrita e de línguas. É
espantosa a quantidade e a variedade desses elementos obtidos pelo autor,
permitindo ao leitor fazer ideia segura do que está lendo. Surgem figuras
rupestres, caracteres cuneiformes, escrita chinesa, etrusca, hieróglifos e
outras. A seguir o livro se estende por diferentes línguas e diferentes
escritas. O alfabeto grego, hebraico, árabe, copta, aramaico, samaritano,
híndi, cingalês, armênio, persa, gaélico e uma infinidade de outros. Aborda
a escrita gótica, o alfabeto cirílico, a escrita quíchua, o alfabeto
quadrado, escritas mongol, iídiche, malaio, abcázio e incontáveis outras
línguas e escritas, antigas e modernas, faladas por muitos ou por poucos,
vivas e mortas, deixando herdeiras ou não. Também há lugar para a língua de
sinais, o alfabeto braile, o código Morse, o semáforo, a escrita matemática,
a escrita musical, a escrita pictográfica, línguas e escritas imaginárias,
escritas universais, escrita hip-hop (grafite e pichação) e até a escrita
epidérmica (tatuagem). O Latim, de onde veio nosso musical português, merece
tratamento especial.
Tudo isso ilustrado à farta, com clareza e boa
definição, num trabalho gráfico da melhor categoria, formando um conjunto
impressionante. Acentuo a imensa tarefa que o autor se impôs, manuseando por
longo tempo uma enormidade de línguas e dialetos, milhões de palavras,
símbolos e desenhos, escritas estranhíssimas, algumas grafadas da direita
para a esquerda e caracteres indecifráveis. Trabalho sem similar.
Registro, por fim, a bibliografia de que se valeu o autor. É espantosa pela
quantidade, toda estrangeira e da melhor qualidade.
Dizer que o
Prof. Adovaldo merece parabéns é muito pouco. Ele merece a consagração.
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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